terça-feira, junho 13, 2006

Professores em pé de guerra

Artigo publicado no jornal "A BOlA"

OS professores andam em pé de guerra. Como os professores são normalmente distantes uns dos outros, os seus pés de guerra andam por aí semeados como pés de salsa, espalhados pelo País. De norte a sul. Os professores estãodescontentes. Com a vida que lhes corre mal, porque ninguém os valoriza; comos colegas, que só se interessam por resolver a sua vidinha; com os alunos, que os desconsideram e maltratam; e, acima de tudo, com o Governo da nação,que os desvaloriza, os desautoriza e os desmoraliza. Nunca fui um estudantefácil e sabia que um professor desautorizado era um homem (ou uma mulher) morto na escola. Não quero dizer fisicamente mas profissionalmente. Comosempre fui bom observador, conhecia de ginjeira os professores fortes e osprofessores fracos. Os fortes resolviam, por si próprios, a questão. Alguns pela autoridade natural do seu saber e da sua atitude, outros de forma menosacadémica. Os fracos eram defendidos pelos reitores. Ir à sala de um reitorera, já por si, um terrível castigo. Mas bem me lembro que professores fracos e fortes, bons e nem por isso, se protegiam, se defendiam e sereforçavam na sua autoridade comum. Já nesse tempo se percebia que tinha deser assim, porque, se não fosse, os pais comiam-nos vivos e davam-nos, já mastigados, aos filhos relapsos. E isso a escola não consentia. Os pais,dito assim de forma perigosamente genérica, sempre foram entidades poucofiáveis em matéria de juízo sobre os seus filhos e, por isso, sobre quem deles cuida, ensina e faz crescer. Os pais sempre foram o pavor dosprofessores de natação, dos técnicos do futebol jovem, dos animadores dascorridas de rua. Os pais, em casa, acham os filhos umas pestes; mas na escola, no campo desportivo, no patamar da casa do vizinho, acham os filhosvirtuosos e sábios. Os pais são, individualmente, insuportáveis e,colectivamente, uma maldição. Claro que há pais... e pais. E vocês sabem que não me refiro aos pais a sério, que são capazes de manter a distância e obom senso. Falo dos outros, dos pais e das mães que acham sempre que os seusfilhos deviam ser os capitães da equipa e deviam jogar sempre no lugar dos outros filhos. O trágico disto tudo é que são precisamente esses pais osque, na escola, se acham verdadeiramente capazes de fazer a avaliação, ojulgamento sumário dos professores dos seus filhos, achando que eles só servem para fazer atrasar os seus Einsteinzinhos. Por isso eu aqui medeclaro a favor dos professores. Quero jogar na equipa deles contra a equipados pais e ganhar o desafio da vida real e do futuro deste país contra o desafio virtual dos pedagogos de alcatifa.In: a Bola - 3.06.2006

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