Entrevista virtual à Srª Ministra da Educação
E- Srª Ministra, começaria por lhe perguntar qual o sentimento com que fica no final dum ano lectivo que se mostrou tão agitado e com tantas medidas controversas, como este foi.
M.L. – Olhe. Como imagina de certo, já esperava alguma contestação às novas medidas propostas propostas pela minha equipa. No entanto, a onda de protesto que se generalizou de Norte a Sul do país devo confessar que me tem estado a colocar num estado psicológico bastante depressivo. No entanto, não faz parte da minha maneira de ser, voltar atrás.
E- E demitir-se?
ML – Seria como voltar atrás….
E – Como interpreta a acusação dos professores de que a sua carreira está a ser desvalorizada?
ML – Bem, como sabe, todos os anos ficam milhares de professores por colocar isto significa que temos professores a mais. Há, portanto que alterar esta situação. E não há outra forma de o fazer que não seja desincentivar as pessoas a entrar na carreira. Como se consegue isso?
Desde logo tornando menos atractivo o conteúdo funcional da carreira de professor e dificultando o acesso à progressão, no interior dessa mesma carreira.
Esperamos que daqui a alguns anos já não se venha a colocar a situação de professores sem colocação pelo simples facto de cada vez haver manos candidatos a serem professores.
E - Mas isso não poderá vir a criar no futuro uma situação semelhante à que deparamos no sector da Saúde em que já estamos a celebrar contratos com médicos espanhóis?
ML – Repare que a situação no ensino é completamente diferente, dado que a taxa demográfica em Portugal é muito baixa e não se prevê que se venha a alterar nas próximas décadas dados as crescentes dificuldades económicas das famílias que por certo continuarão e se agravarão no futuro próximo, infelizmente.
E – Entretanto, tornar menos atractiva a carreira docente, não poderá significar que serão os menos competentes (por falta de outras alternativas) aqueles que procurarão entrar para a função de professor e fazer diminuir deste modo a qualidade do ensino?
ML – A qualidade do ensino mede-se pelas taxas de insucesso. Se conseguirmos fazer diminuir estas taxas alguém de bom senso poderá dizer que a qualidade diminui? Ora tudo faremos para alterar estes valores inaceitáveis de alunos retidos ao longo do processo da sua escolaridade. Ter sucesso escolar é um direito dos alunos. Por certo os professores pensarão duas vezes na sua forma de ensinar e de avaliar ao saberem que eles próprios serão avaliados tendo em conta o sucesso escolar dos seus alunos.
E- Isso não poderá traduzir-se numa menor exigência relativamente às aprendizagens dos alunos?
ML – A escola pública nomeadamente ao nível do ensino básico não tem a vocação de formar doutores.
E é necessário que os professores compreendam isto no momento em que avliam os seus alunos.
E- Mas como explicar, nesse contexto, os exames nacionais?
ML- Repare que os exames nacionais são apenas uma das componentes da avaliação dos alunos, ao nível do Ensino Básico. Um aluno que obtenha uma boa avaliação interna, não vai reprovar por causa dos exames. Os exames tem fundamentalmente por função dar credibilidade ao sistema e pouco mais que isso.
E- Não aceita a crítica de que cumprir 97% da actividade lectiva como condição para ascender na carreira é uma exigência desumana pois esquece que os professores, tal como qualquer outro trabalhador, não tem culpa de ficar doente?
ML – Como lhe referi atrás, temos excesso de professores no sistema. Se alguns desistirem por considerarem as regras exigentes de mais, ou forem forçados à exoneração, isso não nos aflige. Há sempre alternativas, para esses professores, noutros campos de actividade que não sejam o ensino. Por outro lado, como sabe, temos problemas orçamentais graves. Não há qualquer vantagem para o país em fazermos subir o número de professores no topo da carreira, dado que o aumento salarial global seria incomportável para o orçamento de estado.
E-Uma das críticas mais vezes referidas referem-se às famosas aulas de substituição. Que balanço faz sobre esta situação?
ML – Importa mais o balanço que a opinião pública faz, do que o balanço da ministra… Ora os pais sentem-se mais tranquilos ao saberem que os seus filhos estão acompanhados por um professor desde o momento que entram na escola até ao momento em que dela saem.
Esse é o aspecto fundamental O tempo escolar pleno.
E-Mesmo que a ocupação consista em jogar à batalha naval?
ML- Mesmo nesse caso. Pergunta aos pais o que eles pensam sobre isso. O objectivo das aulas de substituição não é substituir aulas de matemática por aulas de matemática. É antes o de substituir tempos livres dos alunos que andavam à solta pela escola, por tempos em que estão vigiados dentro de salas de aula. Importa menos considerar sobre o que estão a fazer nesses tempos, dado sabermos que estão sob vigilância.
E – Sr.ª ministra, não se incomoda de, sendo professora, ter os professores todos contra si?
ML – Olhe, o que me importa é ter a confiança do Sr. Primeiro-ministro e ter o apoio dos Pais que são em muito maior número na sociedade portuguesa do que os professores. E se a sociedade na sua maioria se voltou contra os professores então o isso quer dizer que estão do lado da Ministra da Educação, o que torna a minha posição bastante confortável, apesar de, como lhe disse no início, me sinta um pouco deprimida psicologicamente, mas não irei deixar que isso me demova dos meus propósitos.
(a continuar…
Não perca as cenas dos próximos capítulos em que a ministra se pronunciará sobre as diversas questões relativas ao estatuto da carreira docente!!!!!)
sábado, junho 17, 2006
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2 comentários:
Fantástico.Cá espero, ansiosamente, as cenas dos próximos! ;)
Apesar de virtual esta entrevista não estará muito longe da realidade.
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