domingo, junho 18, 2006

Entrevista a Milu (cont)

Continuação da entrevista virtual a Maria de Lurdes Rodrigues

E- SRª Ministra, explique-nos um pouco melhor o seu entendimento sobre a escola a tempo pleno.

MLR- Bem, a escola existe para servir a sociedade. Não é a sociedade que existe para servir a escola. Estamos num momento em que se desenvolve um processo de flexibilização dos horários nas empresas. Estas medidas, que têm que ver com a criação de melhores condições e mais fortes atractivos para que o investimento tanto estrangeiro como nacional se faça e contribua para o desenvolvimento do país, leva a que os pais estejam menos livres para estarem com os seus filhos. Precisam pois, de estruturas que guardem os filhos enquanto trabalham.
O Governo socialista, a que pertenço, honra-se de tudo fazer para tornar o nosso País mais aprazível para as empresas se fixarem cá e aqui criarem riqueza.
Não pode a escola ficar alheia a este processo, antes pelo contrário!
A escola, ela também, deve contribuir para o desenvolvimento empresarial e, desde logo, facilitando espaços de guarda às crianças, que dada a flexibilização dos horários dos Pais, necessitam de local onde possam estar vigiadas e acompanhadas. É neste enquadramento que devemos entender o prolongamento escolar no 1º ciclo, e sublinho, para já ainda só no 1º ciclo.

E- Mesmo que não seja a aprender?

MLR- Essa é uma falsa questão. O importante é que estejam protegidas e seguras. Os tempos de aprendizagem são os tempos lectivos.

E- E não entende que esse aumento de tempo na escola corresponde a uma diminuição do tempo familiar, tão importante para o desenvolvimento socio-afectivo das crianças?

MLR – Sabe que a opinião pública foi inundada de noções pseudo-teóricas como as que acaba de referir. É o que agora vulgarmente é designado e com algum sentido de humor pelo “eduquês”. Sem dúvida que as crianças e as famílias saberão encontrar respostas às novas exigências que a sociedade empresarial e globalizada em que vivemos lhes apresenta, mas precisa de um apoio de retaguarda – a escola a tempo pleno. Mais importante que essas teorias do “eduquês” não fundamentadas é com certeza o desenvolvimento empresarial do nosso País.

E- Srª Ministra, há quem diga que Vª Exª é uma espécie de “testa de ferro” da sua equipa no ministério, cujas políticas são definidas não por si mas pelos seus colaboradores. Que tipo de relacionamento tem com os seus Secretários de Estado?

MLR – A ministra tem sempre de dar a cara pelas políticas que aprova. É uma questão de princípio a que não fujo, portanto, se se entender que isso é ser “testa de ferro”…. Entretanto é claro que que o meu conhecimento do Sistema de Ensino conta com a minha experiência de professora, mas como sabe, no Ensino Superior, sendo natural, portanto, que os meus colaboradores tenham um papel fundamental no delinear das medidas concretas que se adoptam a nível do básico e do secundário.

E- Mas não lhe parece estranho haver convites directos do Sr 1º Ministro dirigidos ao seu Secretário de Estado Valter Lemos para inagurações de espaços educativos?

MLR – Como sabe, mesmo em política, as relações de amizade têm sempre o seu lugar. Portanto não me parece estranha essa situação, tendo em conta o relacionamento passado entre o Sr Primeiro Ministro e o Dr Valter Lemos. Não direi que é uma situação especialmente agradável para a Ministra, mas compreendo essa situação.

E - Voltando ao ECD. Não lhe parece que a situação de um professor deslocado das famílias, da mulher, dos filhos, por um período no mínimo de 3 anos pode ser extremamente desmotivadora para esse professor e também causar danos por um lçado, nas suas relações familiares, por outro na sua dedicação às aulas e aos alunos, podendo mesmo conduzir ao aumento do absentismo desse professor?

MLR- A estabilidade das escolas é um valor em si que transcende os problemas individuais de cada professor. Mas, de qualquer forma, nós vivemos na era das comunicações. Estar hoje a 100 ou mesmo a 200 km das famílias não é o mesmo que era há algumas décadas atrás. Todas as escolas possuem já internet e webcams. Portanto, esses professores afastados geograficamente tem todos os meios para se reunirem às famílias usando as novas tecnologias. Falam-se, vêem-se, estão em contacto. Poderão até fazer sexo virtual com os maridos ou esposas!!!
Isto para lhe dizer que não me parece que essa questão deva ser equacionada desse modo.
Relativamente ao absentismo, o novo ECD irá por certo fazer como que o professor pense duas vezes antes de faltar a uma aula para ir "mandriar" para casa. Verá que ele saberá optar pelas novas tecnologias!

Não perca as cenas dos próximos capítulos da entrevista virtual a Maria de Lurdes Rodrigues!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Proponho que estas entrevistas sejam distribuidas em folhetos nas estações de comboios e, no final da saga, reunidas em volume. Também podes experimentar mandar para a TV (só um excerto, senão ianda te roubam a patente). De certeza que alguém vai pegar na ideia. Contra-informação? Herman? Gato Fedorento? Sei lá, acho que isto pode ser uma mina!

habacuc disse...

lol!