terça-feira, novembro 08, 2005
Um texto de João Medeiros, que aqui se transcreve
Num comício partidário de rentrée, o eng. Sócrates anunciou, com pompa e circunstância e tiques populistas, o fim do concurso anual de colocação de professores já no próximo ano, com o argumento de levar estabilidade às escolas. A colocação dos docentes passaria a ser válida por um período de 2 3 ou 4 anos, conforme a duração do seu ciclo de ensino. Ou seja, uma recondução encapotada para os felizes contemplados com a colocação em 2006. Exultaram de imediato os dirigentes sindicais chegando ao ponto de um deles afirmar que o governo demorou demasiado tempo a ir de encontro às propostas de sempre da sua organização sindical (!). É caso para perguntar: o que fizeram eles das resoluções de congressos, pugnando inequivocamente pela manutenção do carácter nacional do concurso, pela sua anuidade, pelo respeito pela lista graduada, contra as reconduções? Compreende-se que este mentiroso e desacreditado governo esteja exasperado pela projecção mediática que esta vergonha nacional justamente alcança em Setembro. Ainda para mais com um intenso e difícil calendário eleitoral pela frente... Mas vê-se o Governo implementar efectivas e corajosas medidas de fundo - como por ex. a vinculação dos contratados segundo a Lei geral do Trabalho, a redução do número de alunos por turma, o relançamento da alfabetização e educação de adultos ao longo da vida, a luta contra o abandono escolar, os apoio condigno aos projectos e apoios educativos, a aposentação voluntária para mais cedo, numa profissão de reconhecido desgaste rápido, etc., etc.? Não senhor, para o poder político é mais cómodo empurrar a discretamente a vergonha, o lixo, para debaixo do tapete e mantê-lo lá escondidinho por períodos de 2, 3 e 4 anos. Poupa ao país o conhecimento real da magnitude e dramatismo resultantes da exploração pelo Estado da precariedade docente em Portugal. Preserva assim os seus índices de popularidade. E duma assentada enxota definitivamente milhares de colegas da profissão, colegas que ao longo de anos e anos de bom e esforçado serviço docente deram o melhor de si e das suas vidas a um sistema educativo que no fim os trata como vulgares prostitutas. Quanto a nós esta medida a ser implementada mais não representará que o golpe de misericórdia na contratação, encarada desde sempre pela tutela como mão de obra barata dócil e descartável, um autêntico "negócio da china". Não há pois razão para festanças, sejam elas ministeriais ou sindicais, mas para forte apreensão, para um arregaçar de mangas e para disposição para a luta - o único caminho para travar esta autêntica canalhice governamental.
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