quinta-feira, novembro 24, 2005

Um debate

Do debate na RTP sobre a educação, vale a pena salientar alguns aspectos:

um - a diferença entre os discursos da actual ministra da educação e do anterior ministro, David Justino. Enquanto o segundo aborda os temas que lhe são colocados numa perspectiva holística e mostrando conhecer aquilo sobre que fala, concorde-se ou não com as suas posições, a primeira revela um vazio total de pensamento, apenas sabendo debitar com maior (as mais das vezes menor) convicção, as medidas avulsas que o governo de que faz parte vai tomando sobre o sistema educativo. Ausência total duma visão global do sistema, ausência total dum conhecimento, ainda que mínimo, da realidade do sistema que lhe cabe gerir.

dois - A falta de honsetidade intelectual da actual ministra da educação, ao fazer "cara de espantada" ao ser-lhe relatado o facto de um professor da disciplina A, ser chamado, tipo bombeiro de serviço, a substituir um professor da disciplina B. Como se ela não soubesse que é essa a prática corrente na maioria das nossas escolas, graças às suas "inteligentes" directivas. Porque é evidente que a ministra sabia que é esta a prática corrente e a sua "cara de espanto" apenas revela a sua pequenez e a sua desonestidade intelectual.
Mas se, ingenuamemnte acreditássemos que não soubesse, então mais grave seria: como aceitar que se tracem directivas para as escolas e não se procure receber o feedback dessas mesmas directivas? Seria a incompetência em grau absoluto. Não vou tão longe. Fico-me pela desonestidade intelectual. Parece "calhar" melhor à pessoa.

três - Num pequeno "à parte", Sua Excelência refere ter sabido, sic:"através de conversa com um adolescente com quem costuma falar, que agora as escolas estão mais tranquilas, não se vê ninguém nos pátios". Parece assim dar-me razão quando aqui, noutro post, descrevi, imaginando, a vida pessoal da ministra. É que ela, por certo, só conhece os jovens em idade escolar, quando, de vez em quando, fala com o tal adolescente. Ou aqueles outros que vê em fotografias ou filmes. Ou dos poucos livros que leu sobre eles.
Por outro lado, para a ministra, pelos vistos, a tranquilidade duma escola afere-se pela presença ou não de alunos nos pátios. Portanto, desde que não se vejam nos pátios, importa pouco que o que estejam a fazer seja cruzadex ou jogo do galo...ou situações de indisciplina nas aulas.Isso, como é dentro das aulas, já não se considera intanquilidade.

quatro - Concorde-se pou não com o que disse, é de salientar a assertividade do presidente das Confederação de Pais. Mas disse uma coisa fundamental: as aulas de substituição farão todo o sentido desde que seja um professor da mesma disciplina a exercer tal função, dando assim continuidade ao processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina. Só que é preciso pagar a esse professor!!!! E isso a ministra não quer. Prefere gastar o dinheiro em gabinetes de tabopan para o trabalho dos professores nas escolas.
Disse ainda outra coisa de extrema importância, que passou, entretanto despercebida no contexto do debate: a incongruência entre a autonomia pedagógica, e as adaptações curriculares e programáticas face às diferentes realidades em que se integram as escolas e as turmas e a exigência duma avaliação normativa e não criterial, que se traduz nos exames obrigatórios.
É, de facto, um total contrassenso do sistema. Mas a ministra, sabe lá do que ele falou....

quinto - Mais uma vez, infelizmente Paulo Sucena não foi capaz de traduzir em palavras aquilo que se passa na realidade. Incrivelmente nunca referiu que, de acordo com a lei em vigor, as actividades de substituição dão lugar ao pagamento de horas extraordinárias o que não é cumprido e que, portanto, o ministério da srª Ministra exige trabalho não remunerado aos professores. Tal como lhes está a exigir o desempenho de cargos de direcção pedagógica, não remunerados. Para um dirigente sindical, tais esquecimentos, são graves.

sexto - O senhor investigador (cujo nome não fixei) conseguiu numa curta intervenção, deitar por baixo por completo a tese ministerial dos grandes custos do investimento na educação. Interesante foi ouvir a resposta da ministra à intervenção referida. A ministra respondeu:" "

Exacto, foi mesmo isto que ela respondeu!

Sétimo - Talvez o mais óbvio do debate. O desprezo da ministra pelas funçoes docentes. Quais "criados" de Sua Excelência, os professores são agora "guardas de crianças".
Não, senhora ministra. Os professores não são amas-secas. Está enganada. Se quer amas-secas nas escolas, contrate-as e verá que até lhe sai mais barato que os professores- não necessitam de tanta formação científica.
E ainda o desprezo pelo mal-estar entre os docentes- como se o processo de ensino-aprendizagem fosse imune ao estado psicológico dos seus participantes.
Bolas!!! Esta ministra não pensa!!!!

Oitavo - De realçar a qualidade das intervenções da nossa colega reformada, Amélia Pais. (espero não lhe estar a trocar o nome).
Assertiva, contudente, educada, elegante.
Obrigado pela sua presença neste debate.
Dignificiou-o!

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