sábado, novembro 26, 2005

Fazer umas graças

Aqui se reproduz um texto publicado pelo jornal torrejano e da autoria de Jorge Carreira Maia


Há palavras mortais, palavras que, sem querer, mostram o que vai na alma de uma pessoa. Quando proferidas, tornam-se revelações, verdadeiras confissões das crenças mais arreigadas que dormem no íntimo dos seus autores.
A ministra da Educação, acolitada pelo inefável Secretário de Estado Valter Lemos, ao defender as medidas que obrigam os professores a estarem na escola, para além do tempo lectivo, afirma: "Quantos professores de Português não gostariam de ir à escola de 1.º ciclo ler poesia ou fazer umas graças?" (Público de 29/X, pg. 22).
Na mortal expressão "fazer umas graças", está presente a súmula do que os actuais dirigentes do Ministério da Educação pensam dos professores: não servem para ensinar, servem para "fazer umas graças".
E quem serve para tal coisa não precisa de estudar, nem de preparar aulas, nem de corrigir trabalhos dos alunos. Essa gente, que serve para "fazer umas graças", deverá estar na escola 25, 28 ou mesmo as 35 horas. (........)
Nunca conheci nenhum professor que lhe apetecesse ir "fazer umas graças" ao 1.º ciclo.
Nunca conheci nenhum professor que quisesse trocar a nobre missão de ensinar pelo trabalho circense de palhaço. Fazer umas graças? Não seria melhor umas cócegas? Talvez umas piruetas? Parece que para a actual equipa governativa o verdadeiro trabalho docente não passa de uma mera brincadeira.

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