terça-feira, novembro 29, 2005
Os crucifixos
Mas....sobre a matéria substantiva a ministra não diz absolutamente nada, tal como seria de esperar, porque a Srª ministra não sabe dizer nada.
A Srª ministra é um vazio ideológico absoluto!
Professor ou Orientador educativo?
Parte-se do princípio que o professor expõe e o orientador educativo acompanha o processo de aprendizagem do aluno, na lógica duma pedagogia activa.
Mas podemos, talvez, pensar os termos de um outro ponto de vista....e talvez não nos levem a mal por isso!
Então, tendo em conta que a palvra professor vem do latim professare, que significa dizer bem alto aquilo em que se acredita, o professor tem a função de fazer passar aos seus alunos uma mensagem - a mensagem do conhecimento.
Mas passa-a porque acredita nela.
Para o fazer deve obviamente recorrer a várias metodologias, nomeadamente usando métodos pedagógicos centrados no aluno enquanto construtor ele próprio das suas aprendizagens.
Mas fá-lo porque acredita em alguma coisa que abertamente "professa".
Fá-lo, portanto, com convicção!
E, neste sentido, o professor é, além de um agente de orientação educativa, um modelo.
O conceito de orientador educativo é outro completamente diferente, em que se vê quem desempenha tal função como um mero orientador de estratégias diversas para atingir copmpetências mas sem que ele próprio acredite seja no que for, sem que ele próprio professe seja o que for, sem que ele próprio seja modelo de coisa nenhuma.
Apenas um mero sistema operativo de aprendizagens.
E sendo assim, parece-me um conceito um bocado pobre, esse de orientador educativo....
Mas eu quero lá saber!
Cada qual come do que gosta!
segunda-feira, novembro 28, 2005
Contrato de autonomia ou simplesmente embuste?
Como só podemos analisar um único contrato de autonomia pois só esse existe, o da Escola da Ponte, passemos a ver o que lá está escrito...devagarinho. Um bocadinho de cada vez, para não nos entrarmos em "burn-out"!
Vamos lá então a transcrever o essencial do embuste:
Cláusula Terceira
Competências reconhecidas à Escola
Pelo presente contrato, o Ministério da Educação, na esfera das respectivas atribuições e
no desenvolvimento do regime jurídico da autonomia da escola, aprovado pelo Decreto-
Lei nº43/89, de 3 de Fevereiro, reconhece à Escola competências para:
1- Coordenar e gerir a implementação dos planos curriculares e programas definidos a
nível nacional, mediante a selecção de modelos pedagógicos, métodos de ensino e de
avaliação e materiais de ensino-aprendizagem coerentes com o Projecto Fazer a Ponte e
adequados à variedade dos interesses e capacidades dos alunos; E que tem isto de novo?
2- Organizar actividades de enriquecimento do currículo e de ocupação de tempos
livres, de acordo com os interesses dos alunos, as expectativas dos pais/encarregados de
educação e os recursos da escola;E que tem isto de novo?
3- Planificar e gerir formas de diversificação curricular, visando a progressiva
qualificação do percurso formativo dos alunos e tendo em conta os Princípios
Fundadores do Projecto Fazer a Ponte;E que tem isto de novo?
4- Estabelecer protocolos com entidades exteriores à escola para a concretização de
componentes curriculares específicas, designadamente as de carácter vocacional ou
profissionalizante;E que tem isto de novo?
5- Conceber e implementar experiências e inovações pedagógicas próprias, de acordo
com o seu Projecto Educativo.E que tem isto de novo?
6- Desenvolver métodos específicos e pertinentes de avaliação dos alunos, de acordo
com o seu Projecto Educativo;E que tem isto de novo?
7- Desenvolver mecanismos que permitam detectar a tempo dificuldades de base,
diferentes ritmos de aprendizagem ou outras necessidades dos alunos que exijam formas
de apoio adequadas nos domínios psicológico e sócio-educativo;E que tem isto de novo?
8- Organizar e gerir modalidades de apoio sócio-educativo em resposta a necessidades
identificadas que afectem o sucesso escolar dos alunos;E que tem isto de novo?
9- Promover a organização e o funcionamento da Escola nos termos do Regulamento
Interno;E que tem isto de novo?
10- Definir critérios e regras de utilização dos espaços e instalações escolares;E que tem isto de novo?
11- Planificar a utilização quinzenal dos espaços, tendo em conta as actividades
curriculares, de enriquecimento do currículo e de ocupação de tempos livres, bem como
o trabalho das equipas educativas dos núcleos de projecto e dimensões curriculares, e as
actividades que envolvam a participação ou intervenção dos encarregados de educação e
da respectiva Associação;E que tem isto de novo? Será o "quinzenal?
12- Autorizar, mediante condições definidas pela escola, a utilização de espaços e
instalações escolares pela comunidade local;E que tem isto de novo?
13- Estabelecer o calendário escolar, dentro dos limites de flexibilidade fixados a nível
nacional;E que tem isto de novo?
14- Determinar o horário e regime de funcionamento da escola;E que tem isto de novo?
15- Definir critérios para a elaboração dos horários e assiduidade dos orientadores
educativos e demais trabalhadores e conceder-lhes dispensa total ou parcial de serviço
para participação em acções de intercâmbio e divulgação do Projecto;Aqui a novidade está em que em vez de professores a escola tem orientadores educativos que....são os professores. Mudaram de designação.
16- Decidir quanto à necessidade da interrupção das actividades lectivas para a
realização de reuniões ou acções de formação que não possam decorrer em horário póslectivo;Será que ainda se mantém esta norma com a actual ministra?
17- Estabelecer e organizar os tempos escolares destinados a actividades de
enriquecimento curricular, de complemento pedagógico e de ocupação dos tempos
livres.E que tem isto de novo?
18- Inventariar carências respeitantes à formação dos orientadores educativos no plano
das componentes científica e pedagógico-didáctica;E que tem isto de novo?Tirando o novo nome dado aos professores?
19- Elaborar o plano de formação e actualização dos orientadores educativos;E que tem isto de novo?
20- Mobilizar os recursos necessários à formação dos seus profissionais de educação,
através do intercâmbio com outras escolas e da colaboração com entidades ou
instituições competentes, nomeadamente, centros de formação contínua, escolas
superiores de educação e universidades;E que tem isto de novo?
21- Seleccionar e recrutar o pessoal docente e não docente, nos termos do presente
contrato e na observância da lei aplicável;Ah aqui sim, há novidade. veremos se boa ou má noutro artigo.
22- Avaliar o desempenho dos orientadores educativos nos termos da lei, do Projecto
Educativo e do Regulamento Interno;E que tem isto de novo?
23- Estabelecer o período de férias do pessoal docente e não docente;E que tem isto de novo?
24- Organizar o serviço de matrículas;E que tem isto de novo?
25- Definir os critérios para a admissão dos alunos;???Podem escolher os alunos que querem?
26- Autorizar a transferência e anulação de matrículas;E que tem isto de novo?
27- Conceder equivalências de estudos nacionais ou realizados no estrangeiro, desde
que verificado o preenchimento dos requisitos legais;E que tem isto de novo?
28- Inventariar as suas necessidades quanto ao número e qualificação do pessoal
docente e não docente;E que tem isto de novo?
29- Definir critérios de distribuição de serviço ao pessoal não docente;E que tem isto de novo?
E para não ir repetindo, relativamente a tudo o resto, o que tem de novo???? Tudo isto são práticas mais que correntes nas escolas do 2º e 3º ciclo, poderá ser evemntualmente novidade no caso do 1º ciclo. Mas mesmo que o seja, é a isto que se chama autonomia?????
30- Estabelecer critérios para a selecção de pessoal a contratar a prazo, incluindo casos
de substituição temporária, e proceder à sua contratação;
31- Proceder à classificação de serviço;
32- Organizar mapas de férias e conceder licença para férias;
33- Promover a formação do pessoal não docente, estabelecendo protocolos com
diferentes entidades e instituições para esse efeito, e conceder a dispensa total ou parcial
de serviço para a frequência de acções de formação;
34- Inventariar as carências e os recursos necessários no domínio do apoio sócioeducativo
aos alunos, articulando o respectivo plano de acção com os serviços
competentes;
35- Proceder à contratação de serviços de entidades exteriores à escola para efeitos de
exploração, organização e funcionamento dos serviços de bufete, cantina e papelaria e a
realização de tarefas de limpeza e de assistência à manutenção do equipamento
informático, sem prejuízo da função social reconhecida aos referidos serviços;
36- Mobilizar recursos locais e suscitar a solidariedade da comunidade para acções de
apoio sócio-educativo e outras, no interesse dos alunos;
37- Participar na definição da rede escolar, fornecendo anualmente à Administração
Educativa os dados necessários, nomeadamente alterações de capacidade em relação ao
ano anterior;
38- Proceder, no quadro de execução do orçamento da Escola e/ou recorrendo à
comparticipação voluntária de outros parceiros, a obras de beneficiação de pequeno e
médio alcance, reparações e trabalhos de embelezamento;
39- Acompanhar a realização e colaborar na fiscalização de empreitadas;
40- Solicitar o equipamento necessário;
41- Adquirir, no quadro de execução do orçamento da Escola e/ou recorrendo à
comparticipação voluntária de outros parceiros, o material escolar necessário;
42- Proceder à substituição de material irrecuperável ou obsoleto;
43- Alienar, em condições especiais e de acordo com a lei, bens que se tornem
desnecessários;
44- Manter actualizado, em moldes simples e funcionais, o inventário da escola;
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45- Responsabilizar os utentes, a nível individual e ou colectivo, pela conservação de
instalações e de material utilizado;
46- Ceder as suas instalações, a título gratuito ou oneroso, à comunidade para a
realização de actividades culturais, desportivas, cívicas, ou de reconhecida necessidade,arrecadando a respectiva receita, quando a houver
Para não ficar longo demais, numa próxima vez transcreverei os outros pontos mais significativos do embuste.
Mais uma vez,falemos de "burn-out"
Hoje, nem a propósito, um artigo bastante bem elaborado saíu na revista teste-saúde, da DECO, artigo esse que, se por um lado clarifica bastante bem o que é o "burn-out", por outro lado vem confirmar aquilo que então havia dito relativamente à contribuição ministerial para a degradação da saúde dos professores- basta que se atente nas causa que conduzem a essa situação clínica.
Vale pois a pena ler o dito artigo, na revista ou no site da DECO. (http://www.deco.proteste.pt/)
"Teste Saúde - Edição nº 058 - Dezembro 2005
Esgotamento profissional
Afecta quem tem grandes expectativas em relação ao trabalho. Perante a falta de recursos e sucessivos entraves, o funcionário começa a ficar desiludido, exausto, deprimido e a pôr as suas capacidades em causa. Este distúrbio pode ser tratado."
sábado, novembro 26, 2005
O Secretário de Estado da Educação Valter Lemos, que pelos vistos sempre cessou o seu mandato como vereador em Penamacor por acumulação de faltas, é mais um ícone representativo de todo um conjunto alargado de pessoas que foi ocupando diversos cargos de direcção e de chefia na função pública ao longo destes 30 anos.
Não fizeram mais nada na vida, pois tiveram a sorte de lhes ter rebentado uma revolução enquanto jovens que lhes possibilitou uma ascensão rápida no mundo do Estado.
Já conheci diversos Valter Lemos ao longo da minha vida profissional, estão em toda a parte e são desde há muito um dos poderes mais cristalizados e perversos da sociedade portuguesa.
Sempre passaram de cargo para cargo com a maior das leviandades e sem nunca prestar contas a ninguém.
Jamais se responsabilizaram perante a comunidade e os contribuintes pelas decisões que tomaram e pelo modo como, em algumas circunstâncias, desbarataram os dinheiros públicos. Sempre saíram e voltaram impunes.
Esta gente está agarrada ao seu privilégio que quer manter a todo o custo.
E para isso emaranham-se no jogo partidário para tirar dividendos de circunstância.
Estão-se nas tintas para a coerência política e refugiam-se quase sempre naquela figura que está a fazer escola nos anais da política portuguesa: a figura de independente (Valter Lemos que agora está no lado socialista foi, há não mais de dez anos, eleito vereador pelo CDS).
Muito daquilo que vai mal no Estado e na Administração Pública se deve a esta gente.
Neste sentido, quando se fala em diminuir privilégios e reduzir o peso do Estado era por aqui que se deveria começar.
Mas isso é certamente uma impossibilidade, visto que os partidos que nos governam sempre alimentaram e se alimentam deste polvo.
Renato Carmo in http://fugaparaavitoria.blogspot.com/
Fazer umas graças
Há palavras mortais, palavras que, sem querer, mostram o que vai na alma de uma pessoa. Quando proferidas, tornam-se revelações, verdadeiras confissões das crenças mais arreigadas que dormem no íntimo dos seus autores.
A ministra da Educação, acolitada pelo inefável Secretário de Estado Valter Lemos, ao defender as medidas que obrigam os professores a estarem na escola, para além do tempo lectivo, afirma: "Quantos professores de Português não gostariam de ir à escola de 1.º ciclo ler poesia ou fazer umas graças?" (Público de 29/X, pg. 22).
Na mortal expressão "fazer umas graças", está presente a súmula do que os actuais dirigentes do Ministério da Educação pensam dos professores: não servem para ensinar, servem para "fazer umas graças".
E quem serve para tal coisa não precisa de estudar, nem de preparar aulas, nem de corrigir trabalhos dos alunos. Essa gente, que serve para "fazer umas graças", deverá estar na escola 25, 28 ou mesmo as 35 horas. (........)
Nunca conheci nenhum professor que lhe apetecesse ir "fazer umas graças" ao 1.º ciclo.
Nunca conheci nenhum professor que quisesse trocar a nobre missão de ensinar pelo trabalho circense de palhaço. Fazer umas graças? Não seria melhor umas cócegas? Talvez umas piruetas? Parece que para a actual equipa governativa o verdadeiro trabalho docente não passa de uma mera brincadeira.
"O Ministério da Educação é um lugar sufocante onde desabam profissionais que preferem gabinetes e planificações pouco edificantes à tarefa de ensinar em salas de aula. (...)
No seu topo há uma entidade chamada ministro.
Toda essa máquina parece destilar demagógico veneno educativo, servindo-se duma abstracção violenta a que chamam 'pais'.
Têm como inimigo principal a forma do trabalho diário dos professores nas Escolas.
Há uma engrenagem vassala destas gentes em cada lugar de ensino: os Conselhos Directivos. A qual se manifesta em sádicas actividades redutoras: excessos de reuniões, tarefas grotescas, sobrecarga de actividades inúteis. Conjugam-se para destruir qualquer saber mais feliz. Acossado por todos os lados, quem pode levar a mal aos professores que resistam e até que desistam?
Para ser professor, um professor começa por inteiramente precisar de um horário semanal pouco pesado (no ensino dito superior já se compreendeu isso muito bem). De outro modo, não pode aguentar uma actividade de fala e de vigilância e de partilha intensíssima, hora a hora, com dezenas e dezenas de alunos.
Além disso, um professor precisa de poder faltar, dentro dos limites bem precisos: calculando determinados momentos de repouso, pode sempre voltar com a necessária boa-disposição para acompanhar o crescimento sadiamente conflituoso de tantos adolescentes e jovens. É pura desfaçatez dizer o contrário.
Porém, tudo se passa assim ao contrário.
Os horários pretendem aumenta-los em vez de reduzi-los.
A necessidade de faltar num momento de maior tensão ou cansaço é totalmente sabotada.
O trabalho de um professor não pode ser encarado como uma rotina sujeita a obrigatoriedades burocratas. É um trabalho em grande parte anímico, e suponho que até os engenheiros deveriam saber disso.A luta dos professores cada vez mais tem de ser contra os pavorosos fiscais que enchem os gabinetes do ministério com planos disformes.
E contra os conselhos directivos que se queiram tornar os cães-de-guarda dessa infâmia.
Duas faltas mensais sem desconto nas férias nem no ordenado era algo que a fase final do sistema educativo fascista já compreendia perfeitamente.
Parece agora, visto à distância, ter havido menos gente repugnante, apesar de tudo, nesse tempo de ministeriais estrangulamentos ideológicos do que hoje em dia, em que todos fingem liberalizações educativas sem conseguirem deixar de representar a mera figura de Pilatos.
Horas e horas sabotadoras são passadas em reuniões, onde o desgaste se transforma, a princípio, em conflito, depois em cansaço, por fim em desprezo sem saída.
Com professores esgotados, mal pagos, explorados por decretos e portarias e regulamentos despromovedores, a sua melhor vontade em acompanhar seres no momento crucial do seu desenvolvimento e da sua captação cultural não se pode plenamente manifestar.
Querem ter um povo educado? Um país desenvolvido? Uma colectividade capaz da múltipla imaginação do seu próprio futuro?
É claro que não.
Estes fulanos que nos governam querem é o vazio.
E que depois o vazio vote neles."
http://almocrevedaspetas.blogspot.com/
Ensino: o desastre final
O espectáculo da degradação do ensino em Portugal (e no mundo) torna-se uma felicidade para pedagogos, uma glória aparente para funcionários da politica em trânsito ministeriável, ao mesmo tempo que um quebranto ternurento e admirável trespassa jornalistas & seus irmãos colunistas.
A sua ruína, despertando discursos insensatos e quase sempre pouco substantivos, um fenómeno apetecido. Dedicado. Correio de saudade da vida (Vieira dixit).
A ilusória disponibilidade de todos esses "actores" em paixão "educativa" é uma maldade pendente, respeitável é certo, mas de pouca sustentação. Por isso, não espanta que os dizeres relativos à Escola e à sua "gramática" tenham, pela tranquilidade da memória e pelo prazer da sua saudade, estado presentes no programa Prós & Contras de ontem, unicamente, pelo rosto e voz da nossa querida amiga Amélia Pais e na suavidade do discurso de António Nóvoa.
Porque, de facto, a prédica noutros, é de uma banalização e de uma fadiga intelectual inconfessável. Abusada. De excessos impiedosos
.O discurso sobre o ensino (aqui tomado nos seus aspectos cognitivos) - que não sobre educação (não-cognitivo), se seguirmos os dizeres presentes num notável texto de Fernando Gil na Raiz & Utopia, 9/10 - sendo de difícil apuro e de extrema complexidade no mundo actual, não deixa porém de traduzir-se em saudosas recordações que mil programas, espargidos via TV, dificilmente podem fazer esquecer.
Sabemos, bem, que a instituição Escola, lugar dos saberes ou "horta" de aprendizagem para a eficácia e reorganização do sistema pós-industrial - agora bem coberta que está pela bênção da gestão empresarial em tempos de globalização - é um marcante espaço comunicacional de socialização, um território de iniciações conflituosas, um locus de transmissão de valores.
Não temos dúvidas.
Mas não é esse o nosso mister, por ora.
Apenas queremos registar que quando se fala de ensino (ou educação) as virtudes ou martírios dos currículos, da didáctica ou das metodologias específicas são meras demandas sob custódia do grémio do "eduquês", que habita na paz do ministério da tutela. Nunca estão presentes. Jamais o espectro de tal debate excita as magnas reuniões de esclarecimento fornecidas aos ignaros indígenas lusos, a quem, obviamente estão vedadas.
Por isso não espanta, que os comícios despudorados e anedóticos, quase sempre arrogantemente assumidos pela actual Ministra da Educação e pelo secretário Valter Lemos, com a cumplicidade inimaginável dos militantes socialistas (que, presume-se, ainda existam), tenham como única e proverbial missão afrontar os docentes do ensino básico e secundário, culpando-os, hipocritamente, do desaire do sistema educativo.
Apadrinhando certos putativos pais, ditos modernos (os que há muito deixaram de educar quem quer que seja e para quem os filhos são um fardo lastimoso); afagando o costado de alguns prodigiosos doutores que habitam nas cátedras universitárias (note-se: aqueles que leccionam uma vez por semana, três meses por ano, sem justificar procedimentos ou metodologias educativas, sem avaliação, cada vez mais ignorantes cientificamente ou folgados culturalmente e sempre lastimosamente incompetentes pedagogicamente); sob o aplauso dos habitués comentadores de jornais (curiosamente, hoje, piedosamente mudos, enquanto o rigor, o esforço e o trabalho sério na sala de aula são devassados) e sob o regozijo guloso da populaça (para quem a frivolidade de uma disputa conduz ao êxtase de cidadania); o Ministério de Educação dá provas de uma incompreensão total sobre o sistema educativo.
E de como o pode e deve corrigir.
Não é estranho a essa incapacidade, o peso e os laços políticos, que os "mestres" formados no "eduquês" - em tempos de 1982, em Boston - e que configuraram e representam o actual sistema de ensino, têm nos principais centros de decisão nesta área.
A isso voltaremos um dia, se a paciência o permitir e a situação o reclamar.
sexta-feira, novembro 25, 2005
Os disfarçados
Não se enganem com tais personagens....Porque, quando chega o momento da verdade, ningém pode contar com eles!
Não dão um passo, por pequenino que seja, que os possa pôr em risco de perder as boas graças do poder.
São os disfarçados.
Artigo 19.º Ausências por motivo de greve
1 - A ausência por exercício do direito à greve rege-se pelo disposto na Lei n.º 65/77, de 26 de Agosto, alterada pela Lei n.º 30/92, de 20 de Outubro, considera-se justificada e implica sempre a perda das remunerações correspondentes ao período de ausência, mas não desconta para efeito de antiguidade, nem no cômputo do período de férias.
2 - As ausências durante o período de greve presumem-se motivadas pelo exercício do respectivo direito, salvo indicação em contrário dada pelo trabalhador.
Resumo das normas legilastivas em vigor:
O direito à greve de todos os trabalhadores está consagrado na Constituição da República Portuguesa, no artigo 59º, regulamentado pela Lei nº 65/77 de 26 de Agosto actualizada pela Lei nº 30/92 de 20/10, é irrenunciável, e compete aos trabalhadores definir o âmbito do interesse a defender.
Têm competência para decidir o recurso à greve as organizações sindicais mediante pré-aviso (no caso) ao Ministério da Educação, sempre por escrito ou através dos órgãos de comunicação social, com um prazo mínimo de 5 dias ou 10 nas empresas que se destinam a satisfazer necessidades sociais.
A adesão à greve não produz quaisquer efeitos, para além de dedução do vencimento correspondente ao dia ou dias de greve. Não prejudica a antiguidade e os efeitos dela decorrentes.
É ilegal qualquer referência (nos registos biográficos dos professores) às faltas dadas por motivo de greve.
A justificação da ausência por motivo de greve assume uma forma colectiva e consubstancia-se no pré-aviso de greve, não sendo obrigatório ou exigível qualquer declaração ou justificação de ausência.
Ah! mas nas corridas de cavalos....
Aí, pode fazer-se trabalho de casa....
Saber dos antecedentes, do estado do cavalo, questionar quem sabe, coscuvilhar quanto baste, recolher informações... e apostar no cavalo ganhador.
Alguns jogadores, porém, insistem em preparar-se mal e apostam errado.Só já tarde descobrem que apostaram numa pileca.
Perdem.
E voltam a jogar e apostam mal de novo.
E voltam a perder.
E perder tem sempre custos. Até mesmo custos pessoais.
Mas, jogo é jogo!
E dizendo o que dizem que jesus cristo disse um dia:
"Eis por que lhes falo em parábolas: para que vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam.""Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!"
quinta-feira, novembro 24, 2005
Um debate
um - a diferença entre os discursos da actual ministra da educação e do anterior ministro, David Justino. Enquanto o segundo aborda os temas que lhe são colocados numa perspectiva holística e mostrando conhecer aquilo sobre que fala, concorde-se ou não com as suas posições, a primeira revela um vazio total de pensamento, apenas sabendo debitar com maior (as mais das vezes menor) convicção, as medidas avulsas que o governo de que faz parte vai tomando sobre o sistema educativo. Ausência total duma visão global do sistema, ausência total dum conhecimento, ainda que mínimo, da realidade do sistema que lhe cabe gerir.
dois - A falta de honsetidade intelectual da actual ministra da educação, ao fazer "cara de espantada" ao ser-lhe relatado o facto de um professor da disciplina A, ser chamado, tipo bombeiro de serviço, a substituir um professor da disciplina B. Como se ela não soubesse que é essa a prática corrente na maioria das nossas escolas, graças às suas "inteligentes" directivas. Porque é evidente que a ministra sabia que é esta a prática corrente e a sua "cara de espanto" apenas revela a sua pequenez e a sua desonestidade intelectual.
Mas se, ingenuamemnte acreditássemos que não soubesse, então mais grave seria: como aceitar que se tracem directivas para as escolas e não se procure receber o feedback dessas mesmas directivas? Seria a incompetência em grau absoluto. Não vou tão longe. Fico-me pela desonestidade intelectual. Parece "calhar" melhor à pessoa.
três - Num pequeno "à parte", Sua Excelência refere ter sabido, sic:"através de conversa com um adolescente com quem costuma falar, que agora as escolas estão mais tranquilas, não se vê ninguém nos pátios". Parece assim dar-me razão quando aqui, noutro post, descrevi, imaginando, a vida pessoal da ministra. É que ela, por certo, só conhece os jovens em idade escolar, quando, de vez em quando, fala com o tal adolescente. Ou aqueles outros que vê em fotografias ou filmes. Ou dos poucos livros que leu sobre eles.
Por outro lado, para a ministra, pelos vistos, a tranquilidade duma escola afere-se pela presença ou não de alunos nos pátios. Portanto, desde que não se vejam nos pátios, importa pouco que o que estejam a fazer seja cruzadex ou jogo do galo...ou situações de indisciplina nas aulas.Isso, como é dentro das aulas, já não se considera intanquilidade.
quatro - Concorde-se pou não com o que disse, é de salientar a assertividade do presidente das Confederação de Pais. Mas disse uma coisa fundamental: as aulas de substituição farão todo o sentido desde que seja um professor da mesma disciplina a exercer tal função, dando assim continuidade ao processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina. Só que é preciso pagar a esse professor!!!! E isso a ministra não quer. Prefere gastar o dinheiro em gabinetes de tabopan para o trabalho dos professores nas escolas.
Disse ainda outra coisa de extrema importância, que passou, entretanto despercebida no contexto do debate: a incongruência entre a autonomia pedagógica, e as adaptações curriculares e programáticas face às diferentes realidades em que se integram as escolas e as turmas e a exigência duma avaliação normativa e não criterial, que se traduz nos exames obrigatórios.
É, de facto, um total contrassenso do sistema. Mas a ministra, sabe lá do que ele falou....
quinto - Mais uma vez, infelizmente Paulo Sucena não foi capaz de traduzir em palavras aquilo que se passa na realidade. Incrivelmente nunca referiu que, de acordo com a lei em vigor, as actividades de substituição dão lugar ao pagamento de horas extraordinárias o que não é cumprido e que, portanto, o ministério da srª Ministra exige trabalho não remunerado aos professores. Tal como lhes está a exigir o desempenho de cargos de direcção pedagógica, não remunerados. Para um dirigente sindical, tais esquecimentos, são graves.
sexto - O senhor investigador (cujo nome não fixei) conseguiu numa curta intervenção, deitar por baixo por completo a tese ministerial dos grandes custos do investimento na educação. Interesante foi ouvir a resposta da ministra à intervenção referida. A ministra respondeu:" "
Exacto, foi mesmo isto que ela respondeu!
Sétimo - Talvez o mais óbvio do debate. O desprezo da ministra pelas funçoes docentes. Quais "criados" de Sua Excelência, os professores são agora "guardas de crianças".
Não, senhora ministra. Os professores não são amas-secas. Está enganada. Se quer amas-secas nas escolas, contrate-as e verá que até lhe sai mais barato que os professores- não necessitam de tanta formação científica.
E ainda o desprezo pelo mal-estar entre os docentes- como se o processo de ensino-aprendizagem fosse imune ao estado psicológico dos seus participantes.
Bolas!!! Esta ministra não pensa!!!!
Oitavo - De realçar a qualidade das intervenções da nossa colega reformada, Amélia Pais. (espero não lhe estar a trocar o nome).
Assertiva, contudente, educada, elegante.
Obrigado pela sua presença neste debate.
Dignificiou-o!
domingo, novembro 20, 2005
Encontrar novas formas de luta!
Por isso, sugiro que quem passe por este blog, comente este artigo com as suas sugestões para essas novas formas de luta!
Para já, deixo uma:
No primeiro dia de aulas do mês de Dezembro, em todas as disciplinas todos os professores de todas as escolas, em vez de abordarem matéria programática, discutirem com os seus alunos o funcionamento das escolas e as razões da luta dos professores e distribuirema, para os alunos levarem para casa para os seus encarregados de educação um texto sobre o assunto.
sexta-feira, novembro 18, 2005
Faça. ao menos, uma última "boa acção"!
tenha a coragem política de primeiro demitir o seu secretário de estado Valter Lemos.
Depois, então, já poderá pedir tranquilamente a sua própria demissão, sem ficar com um "peso na consciência".
Ridicularizar a escola?!
"Ao ridicularizarem as aulas de substituição, os professores estão a ridicularizar a escola"
Não, Srª Ministra, está enganada!
Quem está a ridicularizar a escola e a despromovê-la socialmente é a Srª ao tentar transformar os professores em animadores culturais dos tempos livres dos alunos e as escolas em armazéns para depósito de crianças.
Mas, se tem tanto interesse em que os alunos tenham todos os seus tempos ocupados, porque não abre concursos nas escolas para animadores culturais? Tão simples como isso!
Até é capaz de sair mais barato do que a construção dos tais gabinetes em tabopan!
Quem está a ridicularizar o ensino, é o seu Primeiro-Ministro, qundo permite que pessoas com tamanha inépcia política como Vª Exª e o seu secretário de estado Lemos estejam à frente de um sector fundamental para o desenvolvimento do País.
Só pode ser um sistema educativo de anedota, um sistema que é gerido com tamanha ioncompetência por dirigentes tão pouco qualificados para o efeito!
VªExª, Srª Ministra e as pessoas que escolheu para o seu gabinete, ridicularizam, de facto, a escola!
Eu hoje faço greve!
Eu hoje faço greve!!!
Eu hoje faço greve, porque:
- vivo num país onde o lema é “dividir para governar”, onde os meios de comunicação são usados para branquear e camuflar a informação;
- vivo num país que divulga dados sobre a faltas dos professores num dia em que este grupo faz greve por melhores condições de trabalho, esquecendo-se de divulgar a taxa de absentismo dos jornalistas, médicos, advogados, deputados, enfermeiros, empregados de limpeza, empregados de balcão, pedreiros, cabeleireiros, etc..;
- vivo num país onde não existem estudos, pelo menos divulgados, sobre as necessidades de formação no mercado de trabalho a longo prazo, permitindo-se a milhares de pessoas licenciarem-se e acalentarem a esperança de, um dia, virem a ser professores, para mais tarde se confrontarem com a falta de vaga;
- vivo num país onde muitos professores são colocados longe de casa e da família, sem ajudas de custo, e depois todas as pessoas se espantam por estes professores faltarem;
- vivo num país onde qualquer pai é “desculpado” por faltar para prestar assistência à família, enquanto um professor é considerado um “baldas”;
- vivo num país onde todos dizem sem qualquer penalização legal que os professores faltam muito, não sabem ensinar, não sabem manter a disciplina, não gostam do que fazem e depois ficam muito espantados quando os alunos não aprendem, não são disciplinados, faltam e abandonam a escola. Se calhar, se os meus educadores me tivessem dito o mesmo quando era criança ou adolescente, também não quereria aprender algo que viesse daqueles “incompetentes”! Felizmente, nunca o fizeram!!!
- vivo num país onde, apesar das carências na educação, se aumentam os alunos por turma;
- vivo num país que abandona os mais frágeis à sua sorte e não cria estruturas para substituir a família quando esta não funciona, remetendo para as escolas o papel que competia a toda a sociedade;
- vivo num país que se demite de todas as responsabilidades sociais, cívicas, pedagógicas e até familiares, responsabilizando os professores e auxiliares de acção educativa por este papel, pois cada vez mais se lê nos meios de comunicação social e se ouve nas conversas informais de café: “Cabe à escola a Educação Sexual, Educação para a Saúde, Prevenção Rodoviária, Prevenção contra os Acidentes ...”
- vivo num país onde se valoriza o ter e desvaloriza o saber;
- vivo num país onde os alunos são desresponsabilizados pelo seu desempenho, cabendo ao professor justificar o insucesso dos seus alunos - por vezes completamente desinteressados - e alterar a sua prática pedagógica;
- vivo num país onde existem prazos para se poder accionar conselhos disciplinares, findos os quais nada se pode fazer, enquanto tribunais, câmaras municipais e empresas de todo o tipo não cumprem prazos;
- vivo num país onde qualquer pessoa pode trabalhar numa outra actividade ou num outro espaço após o seu horário laboral e é considerada como “muito trabalhadora”, enquanto um professor não o pode fazer, nomeadamente dando explicações, pois “não está a investir nos seus alunos” e “está a tirar proveito económico das carências dos alunos”;
- vivo num país que engloba num “ranking das escolas” (não entendo o anglicismo!), realidades tão díspares, procurando agitar a opinião pública, de forma ligeira, superficial e sem qualquer proveito, excepto o de reforçar o sucesso de escolas privadas que chegam a escolher alunos e a convidar os menos ilustres a anular a matrícula e inscrever-se como aluno externo para exame para que a média da escola não baixe;
- vivo num país onde, ao contrário da maior parte dos grupos profissionais, os professores compram do seu bolso os materiais de trabalho e aumentam as despesas familiares em electricidade, tinteiros, papel, internet ao trabalharem em casa;
Eu hoje faço greve, porque:
- trabalho numa escola onde a maior parte dos alunos vive em bairros degradados e é muito carenciada a todos os níveis;
- trabalho numa escola onde a única tábua de salvação para muitas crianças são os professores, psicóloga escolar e auxiliares de acção educativa, fornecendo refeições, livros, materiais escolares, alimentos, vestuário e muita atenção;
- trabalho numa escola onde se sabe que muitos alunos trazem consigo armas brancas (necessárias no bairro) e não as usa na escola, pois sabe que é um espaço com regras e deve ser minimamente respeitado;
- trabalho numa escola onde as crianças entram no quinto ano sem saber ler nem escrever correctamente e com grandes falhas no âmbito da Matemática e, nos exames do nono ano, na disciplina de Língua Portuguesa, alcançam classificações semelhantes à média nacional, apesar da “língua” materna ser o crioulo;
- trabalho num agrupamento de escolas, onde um dos estabelecimentos de ensino do primeiro ciclo funciona numa espécie de contentor das obras adaptado, sem uma biblioteca, nem espaço para os alunos estarem com dignidade (isto na Amadora, perto da “capital do reino”!);
- trabalho num agrupamento de escolas, onde os professores do primeiro ciclo se queixam de que os alunos vão para as aulas mal alimentados, sem agasalhos, com a roupa e eles próprios sujos; queixam-se de que as crianças não conseguem estar concentradas nem sentadas tanto tempo no mesmo lugar, por estarem praticamente entregues a si próprias, no bairro, após as aulas; queixam-se da dificuldade de muitos pais (sobretudo mães) que querem ajudar os seus filhos, mas não conseguem por diversas razões, entre as quais o analfabetismo;
- trabalho numa escola onde sempre existiram actividades de complemento curricular (clubes e desporto escolar) e muitos professores sempre trabalharam para além das horas marcadas no horário, preferindo muito alunos permanecer na escola (espaço seguro e de afecto) do que ir para casa;
- trabalho numa escola onde muitos funcionários e professores pagam do seu bolso os materiais que consideram necessários para a realização de projectos como forma de vencer a inércia e a burocracia;
- trabalho numa escola onde os professores estavam normalmente disponíveis para colaborar em projectos, vindos dum vasto leque de instituições, mas que começam a estar fartos de tanta exigência;
Eu hoje faço greve, porque:
- tirei uma licenciatura e fiz estágio, na Faculdade de Letras, em Línguas e Literaturas Modernas, Variante de Português e Francês e, neste momento, dou aulas como Área de Projecto e Formação Cívica, Língua Portuguesa (8º e 9º) e Francês (8º), para além de ser Directora de Turma, com toda a carga burocrática que isso implica;
- tenho, no meu horário, que cumprir vinte e seis tempos lectivos na escola, para além das inúmeras reuniões por semana/mês, que ainda ninguém se lembrou de contabilizar e divulgar nos meios de comunicação.
- não consigo preparar as aulas com o rigor e qualidade que gostaria, nem consigo corrigir os trabalhos dos meus alunos num curto prazo como é pedagogicamente correcto. Levei sete horas a corrigir o último conjunto de testes. Será que tudo isto é importante? A quem interessa isto?
- trabalho numa escola onde os professores activos e entusiasmados pelo seu trabalho e sobretudo pelos alunos estão a perder a vontade de trabalhar bem, de dar o seu máximo, porque se sentem ofendidos na sua dignidade, não sentem reconhecimento pelo seu trabalho.
- tenho trinta e sete anos e já tenho muitas falhas de memória;
- incomoda-me imenso a instabilidade, as regras que mudam diariamente, as informações que saem a toda a hora, quer vindas do ministério, quer emanadas pelos próprios órgãos da escola, segundo indicações do ministério;
- detesto os níveis de ruído que existem nas escolas;
- sinto-me muito extenuada depois de cinco tempos lectivos, mas tenho que continuar a trabalhar, quer na escola, quer fora;
- quem me dá oportunidade e tempo para reflectir, aprender, ser uma pessoa/professora cada vez mais completa?
Eu hoje faço greve
Porque sou, com muito orgulho, professora!
quinta-feira, novembro 17, 2005
Nada de novo debaixo do sol...
quarta-feira, novembro 16, 2005
Pensando com os meus botões...
Mas, boa notícia! - Há verba para construir nessas mesmas escolas gabinetes para o trabalho individual(?) dos professores.
E é esta notícia tão boa, que faz com que um sindicato conclua que desapareceram as razões de queixa dos professores.
Entretanto, os professores que trabalham em casa gastam e pagam a sua electricidade, os seus materiais de trabalho(canetas, lápis, papel, computador, impressora, consumíveis.....) que, multiplicados, estes gastos, pelo número de professores em exercício de funções, é uma verba considerável. Boas notícia: com os futuros gabinetes nas escolas, tais gastos passarão, obviamente, para o orçamento das escolas e deixarão de carregar o já mísero salário de professor.
Então, afinal, o orçamento do ministério não irá assim tão mal já que consegue suportar os custos das obras para fazer os tais gabinetes nas escolas e em seguida suportar os custos dos materiais de trabalho para os professores.
Mas, sendo assim, porque não se fazem as obras de que os espaços escolares necessitam e que de início referi?
Talvez para se dizer, mais tarde, que a degradação dos edifícios escolaress se mantem por causa dos privilégios dos professores que até exigiram gabinetes particulares de trabalho, pasme-se, mesmo sabendo que há escolas que têm edifícios a caír de podres.
Uns egoistas, estes professores!
Mas vou gostar de ver (ah! isso vou) as salas de professores divididas em mútiplas salinhas de trabalho, por meio de "tabopan"!
Só espero que a ministra seja grata e convide a FNE para a inauguração!
segunda-feira, novembro 14, 2005
Não faças greve!
então, não faças greve!
Se pensas que até aqui tens sido um profissional priveligiado na sociedade portuguesa,
então, não faças greve!
Se pensas que progredir na carreira docente era até aqui um processo automático e injusto visto que nenhum esforço te era requerido para frequentares as acções de formação exigidas, elaborares o relatório de reflexão e te actualizares,
então, não faças greve!
Se pensas que os alunos aprendem mais havendo aulas de substituição,
então, não faças greve!
Se pensas que é mais do que justo que um aluno tenha falta marcada numa aula que não houve podendo até reprovar por faltas em aulas que nunca existiram,
então, não faças greve!
Se pensas que aulas de substituição ou aulas de apoio pedagógico acrescido, não são serviço lectivo e portanto não devem ser pagas como serviço docente extraordinário,
então, não faças greve!
Se pensas que exercer cargos de Direcção Pedagógica não deve dar direito a qualquer remuneração nem tão pouco a qualquer compensação na tua carga horária lectiva,
então, não faças greve!
Se pensas que Culbes só interessam se for desporto escolar,pois nesse caso tens redução e que nos outros casos todos(jornal escolar, clube da matemática, etc, etc, ) os professores não fazem nada por isso não devem ter qualquer compensação por tal trabalho,
então, não faças greve!
Se pensas que mais importante e relevante do ponto de vista legal que o Estatuto da Carreira docente, é o pensamento da Srª Ministra,
então, não faças greve!
Se pensas que o tempo de trabalho que te era reservado até este ano para preparação de aulas e correcção de trabalhos dos alunos era demasiado,
então, não faças greve!
Se achas que tens obrigação de estar na escola mais horas do que até aqui porque não sofres desgate psíquico algum e estarás sempre em perfeitas condições para manteres uma relação pedagógica eficiente com os teus alunos visto que o burn out dos professores é uma invenção,
então, não faças greve!
Se consideras que mesmo com 65 anos de idade estarás em perfeitas condições de manter o ritmo necessário nas aulas, com miúdos que são cada vez mais indisciplinados,
então, não faças greve!
Se pensas que o insucesso escolar se deve fundamentalmente à tua incompetência profissional e não às políticas erradas, contraditórias e sempre em mudança da tutela,
então, não faças greve!
Se pensas que estar 3 ou 4 anos desterrado num "cu de Judas" qualquer não tem qualquer problema pois, como diz a Srª Ministra, podes levar para lá toda a família,
então, não faças greve!
Se pensas que é por demais óbvia a justeza de teres dois tempos de falta, quando só faltaste a um,
então, não faças greve!
Se pensas que a ti, como professor, cabe apenas cumprir as ordens e que não tens nenhuma palavra a dizer sobre o funcionamento do sistema educativo,
então, não faças greve!
Se pensas que os sindicatos são uma força de bloqueio e que o que é preciso é deixar a Srª Ministra fazer o seu trabalho como bem entende,
então, não faças greve!
Se pensas que o problema do insucesso escolar se resolve escrevendo relatórios atrás de relatórios em que passas a pôr por escrito aquilo que na verdade sempre tens feito até aqui,
então, não faças greve!
Se pensas que o que é bom é ter uma escola fábrica em que cada aluno só tem de olhar para o relógio para saber onde deve estar em cada momento e o que deve estar a fazer em cada momento, sem necessidade de ter de fazer oções e escolhas pessoais porque o Big Brother trata de tudo e sem tempo para actividades não formais de descontracção com os colegas,
então, não faças greve!
Se pensas que é mais importante gastar uns 30 euros num novo par de sapatos (que nem sequer precisas) do que gastar esses mesmo 30 euros na defesa dos teus direitos,
então, não faças greve!
Educação e política (2)
domingo, novembro 13, 2005
Concepção totalitária da escola
A educação para a cidadania implica que a escola seja cada vez mais um espaço de liberdade em que se transmitem aos alunos as competências para fazerem escolhas pessoais nos mais diversos domínios da vida, preparando-os para saber aceitar e saber recusar diferentes opções que lhes irão ser colocadas quando saírem da escola.
Aprende-se a escolher, escolhendo. Aprende-se a rejeitar, rejeitando. Aprende-se a viver, vivendo.
Tal objectivo da escola é completamente incompatível com a estruturação dum espaço rígido, cheio de regras a cumprir, sem tempo nem possibilidade para se optar, para se escolher.
O conceito de escola enquanto organização de horários rígidos, em que tudo o que acontece é programado, planeado ao milímetro, em que todo o tempo é estruturado de forma a que o aluno apenas tem de olhar para o relógio para saber onde deve estar e o que deve estar a fazer em cada momento, é uma concepção não duma escola criadora de cidadãos intervenientes em democracia, mas a concepção duma escola formadora de resignados, amorfos, inaptos para as opções que a cidadania plena impõe.
Não é, ao fim e ao cabo, nada mais do que uma concepção totalitária da escola.
A escola, como instiuição, regula cada passo, cada movimento, e, no limite, cada pensamento de cada indivíduo, neste caso, revertendo-se a pedagogia, à teoria do homúnculo.
Se nos lembrarmos um pouco do nosso tempo de alunos, por certo recordaremos que muito do que na escola nos foi ensinado para a vida, não o aprendemos nas salas de aula, nem nas salas de estudo...aprendemos nos espaços informais de convívio com os nossos colegas, com os nossos amigos. Foi em grande medida nesses espaços que construímos a nossa personalidade.
O tempo-espaço, nas escolas, de simples convívio, de relaxante "não fazer nada", é fundamental para a socialização dos alunos! E se tais espaços e tempos não são encontraods nas escolas, eles serão procurados e encontrados fora da escola, seja no café, no parque, ou em locais menos adequados .
Vem tudo isto a propósito da obsessão da Srª Ministra de não querer alunos nos pátios.
Para ela, estando na escola, o aluno tem obrigatoriamente de estar a fazer alguma coisa prevista no regulamento, ou em sala de estudo, ou em sala de aula, ou em biblioteca. Sentado, (ou de pé) simplesmente no pátio a conversar com os colegas, passou a ser crime!
A vida pessoal da Srª Ministra, não é (nem tem de ser, óbviamente) do domínio público.
Mas como o não é, assiste-me o direito de a imaginar, tendo como base para esta imaginação a incongruência so seu pensamento relativamente às necessidades de socialização dos nossas crianças e adolescentes. É, pois, assim que a imagino:
A Srª Ministra não casou, e também não tem filhos. Portanto o que conhece sobre crianças é o que tem visto em filmes, em fotografias, ouvido contar e lido em alguns(poucos) livros. Não faz a mínima ideia de como é para as crianças e em especial para os pré-adolescentes e adolescentes, importante o estar uns com os outros mesmo que seja sem "estarem a fazer nada" muitas vezes, só a trocar ideias.
Nunca teve um filho ou filha a pedir-lhe para ir passar o dia ou a noite a casa duma ou dum amigo.
Nunca soube o que significa negar-lhe tal possibilidade, mesmo sabendo da "inutilidade educativa"(?!) da tal ida a casa da amiga(o).
E é por isso que, sabendo apenas que existem "filhos dos homens e das mulheres", e desconhecemndo o que é ser criança ou adolescente, a srª Ministra, imagina, a escola como uma empresa onde se transmite educação, preenchendo os espaços ainda vazios dos homúnculos, da mesma forma em que numa fábrica se enchem garrafas de sumo. Todo o tempo tem de ser "produtivo", criatividade é para os "designers".
Falta agora o culminar da sua política de regulamentarismo das escolas.
Que espera sua Exª para decidir sobre o modelo de uniforme dos alunos?
quarta-feira, novembro 09, 2005
terça-feira, novembro 08, 2005
Um texto de João Medeiros, que aqui se transcreve
Educação e Política 1
segunda-feira, novembro 07, 2005
"Si un jour on s'organise, on aura des grenades, des explosifs, des kalachnikovs... On se donnera rendez-vous à la Bastille et ce sera la guerre" - protagonista da revolta, citado em "le Monde"
O regular funcionamento das instituições democráticas é um absurdo se do seu funcionamento não resulta nada.
O autismo governativo face às manifestações pacíficas sindicais, face aos protestos ordeira e controladamente organizados pelas estruturas representativas das massas, não é inócuo.
Tem consequências.
Uma delas é o sentimento generalizado da ineficácia das acções de protestos enquadradas nas regras da democracia que, se por um lado se pode traduzir numa menor participação nas mesmas por outro leva à necessidade de se encontrarem novas formas de acção.
Um governo autista é gerador, e portanto responsável, de formas de actuação que não se enquadram nas regras democráticas, da mesma forma, aliás, que não se enquadra nas regras democráticas a surdez face às manifestações de descontentameno organizadas legalmente no âmbito do regular funcionamento das instituições de que, naturalmente, os sindicatos fazem parte.
Não é enquadrável no espírito da democracia a constante "guerra de números", despoletada pelos governos, para minimizarem, por exemplo, adesões a greves ou a manifestações e, em última instância, conduz "à saída do tiro pela culatra" - ou seja- se as greves e as manifestações têm assim tão pouca força aos olhos dos governantes, certo e sabido será que as massa procurarão e encontrarão outras formas de luta diferentes e tais que dificilmente possam ser minimizadas!!!
Ou será que vai agora também ser possível a Chirac dizer que o número viaturas e edifícios incendiados foi....insignificante???
Quem não teve ainda vontade de dar dois murros bem dados em José Sócrates?
Bem, enquanto for possível sentir alguma eficácia nas acções de protesto previstas na Constituição da República, o nosso Primeiro Ministro poderá, talvez, estar descansado.
Mas...e se continua surdo?
E se não ouve?
Não virá talvez a gerar-se a necessidade de o fazer ouvir por meios mais persuasivos???
Alguém anunciou, há alguns anos, que se tinha chegado ao fim da História. Afinal, parece que estaremos, talvez, no seu início....
Coloca num recipiente herméticamente fechado água. Progressivamente aquece-a. Progressivamente a pressão que ela exerce nas paredes do recipiente aumenta também e chega o momento em que as paredes do recipiente não terão capacidade para aguentarem tal pressão.
No nosso caso, os governantes vão aumentando a pressão, no caso da política educativa em Portugal, o aumento da pressão está em crescendo. Não é difícil prever que o sistema venha a rebentar, da forma mais imprevista que se imagine, da mesma forma que em França ninguém previa a situação presente de guerra civil, porque é já disso que se trata.
A globalização pode não ser, afinal, assim tão simples como eles previam que fosse... Porque,
"Há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz: não!"
domingo, novembro 06, 2005
Negar veementemente e em público uma suspeita ou acusação é, obviamente, uma estratégia de defesa.
Estratégia a que já assistimos por parte de Fátima Felgueiras, Carlos Cruz, Valentim Loureiro, entre outros, em fase anterior a julgamento, e cujo modo de funcionamento, consiste essencialmente em criar na opinião pública a descrença na possibilidade de se aceitar que tal pessoa, que de forma tão assertiva se afirma inocente, possa, de facto, ser culpado seja lá do que for, pois, se fosse mesmo culpado, por certo não seria capaz de se mostrar tão sincero na afirmação da sua inocência.
Et pourtant...
Como justificar a necessidade imperiosa de empreender uma estratégia de defesa pública por parte de alguém que sabe não ser culpado?
Não seria mais natural que, sabendo-se inocente, ignorasse o caso e seguisse em frente?
Não será, afinal, a própria evidência da elaboração de estratégia pública de defesa um indício de culpabilidade???
Bem, pode ser que não...
Mas lá que também pode ser que sim, ah isso pode!
Impoluto e incorruptível...veremos... Ou não veremos, talvez.