segunda-feira, março 06, 2006

Os papinhas

A doutrina da Infalibilidade do Papa diz que o Sumo Pontífice é infalível quando fala nas condições “ex cathedra”, isto é:
1. Quando, na qualidade de Pastor Supremo e Doutor de todos os fiéis, se dirige a toda a Igreja;
2. Quando o objecto de seu ensinamento é a moral, fé ou os costumes;
3. Quando manifesta a vontade de dar decisão dogmática e não simples advertência, instrução de ordem geral.
A razão da infalibilidade, ela pode ser deduzida pela lógica, pela obviedade das Sagradas Escrituras. Vemos em Mt 28,19-20:
“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; baptizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.”


Pois é. Se há quem desconheça o dogma da infalibilidade do Papa, muitos mais haverá que desconhecem o dogma da infalibilidade dos papinhas.

Mas quem são os papinhas?

Os papinhas são os detentores de algum poder para o qual se consideram especialmente vocacionados, ou seja, predestinados.
Palavra esta que é essencial para entendermos o dogma.

O pré-destino, não é, por certo, outra coisa, senão um espírito de santidade que os papinhas consideram estar na génese da sua ascensão ao poder.

Impensável para quem é papinha julgar que, terminado o seu longo processo de ascensão, o espírito do pré-destino os abandona. Isso seria algo de contraditório com o próprio propósito manifestado pelo espírito ao longo do processo ascencivo!

Logo, se o espírito do pré-destino se mantém no exercício da sua benéfica influência ao longo de todo o período de funções do papinha é lógico que as grandes decisões dos papinhas são, por suposto, por eles consideradas como determinadas, na sua génese, pelo referido espírito, donde resulta a sua infalibilidade!

Logo os papinhas consideram-se abrangidos pelo dogma de infalibilidade.

Se são infalíveis por “direito divino”, é pois justa, e mais que justa, necessária, a luta sem quartéis a quem com eles não concorde, quer se trate duma discussão metafísica, quer se trate de saber se um copo está meio cheio ou meio vazio.

Se o papinha diz que está meio cheio, pois que ninguém ouse afirmar que ele está meio vazio – pois uma tal contradição não é, na óptica do papinha, uma salutar e democrática divergência de opiniões: é, isso sim, uma heresia que tem por único objectivo pôr em causa um dogma papínhico, situação, pois, de grande gravidade visto que, quem se atreve a pôr em causa a infalibilidade do papinha poderá não se ficar por aqui e chegar mesmo ao ponto de vir a negar o pré-destino como causa e justificação do poder papínhico.

É também o pré-destino que ilumina os papinhas e lhes confere uma sapiência que se desconhecia até ao momento de assumirem as suas funções.
E é dessa forma que é também um dogma inquestionável que um papinha sabe sempre mais que os outros porque recebe iluminação cognitiva, não através dos processos vulgares de aquisição de conhecimento dos comuns cidadãos, mas por meio de transferências energéticas cognitivas de origem transcendental.

Quem não reparou já que, em caso de dúvida sobre tal ou tal matéria, são sempre os papinhas quem tem a última palavra?

Claro, pois é com eles que está com o santo pré-destino!

Os papinhas desconfiam sempre da democracia: poder do povo, porquê? Se não foi ao Povo que Deus iluminou mas a sim a eles, os escolhidos?

Que este texto vos esclareça e vos guie, meus irmãos, e vos proteja e ilumine e sobretudo que ele vos ajude a entender as lógicas ocultas de actuação de todos os papinhas com quem vos cruzais neste Mundo de Deus e….do Diabo, por certo, também um pouco!

Nota: os termos deste post não constantes do dicionário, deverão considerar-se não como erros, mas neologismos de inspiração directa do transcendente, via espírito do pré-destino.

1 comentário:

Artur Coelho disse...

Também há a variante ruidosa: aqueles que na sala de professores falam alto, gabando-se das maravilhas que fazem nas suas aulas; mas no entanto raramente se vê produzirem resultados concretos.