quarta-feira, março 22, 2006

Eduquês ou matematiquês?

Para que serve a escola?

Para que a queremos?

Perspectiva 1: a escola serve para produzir indivíduos aptos para a produção. Só assim Portugal virá a conseguir um desenvolvimento económico paralelo ao da restante europa.

Mas de que necessita a "produção"?
De indivíduos capazes de interpretar Camões?
De indivíduos capazes de resolver inequações?
Para quê?

Em França, "hoje, 70 por cento obtêm o diploma do liceu mas a maioria só consegue emprego... de caixa de supermercado. E, com formação universitária, um em dois jovens tem emprego sem relação com o que estudou." - in Correio da Manhã

Ou seja, à "produção"francesa (e obviamente não só à francesa, esta surge aqui como exemplo devido aos acontecimentos actuais em França...) parece que, afinal, a formação escolar interessa muito pouco....
Ou pelo menos, , Esta formação escolar.

Ou, dito de outro modo, se a formação é importante para a produção, essa formação não tem nada a ver ou tem muito pouco a ver com o que se aprende nas nossas escolas.

Se a perspectiva é esta, então esta escola não serve para nada e é pura ilusão fazer de conta que um aumento desta escolaridade vai contribuir de alguma forma para o desnvolvimento da economia e o crescimento económico do país.

Precisamos de outra escola de outros professores e de outro currículo, currículo este que não tem nada a ver com "reorganizações ou flexibilizações (?) curriculares" mas sim com uma "revolução curricular".
Só que não há quem tenha coragem para a traduzir no concreto....Por enquanto.

Perspectiva 2: a escola serve para "produzir" cidadãos activos e intervenientes que participem de forma responsável na vida social, que sejam cidadãos .... a tempo pleno (lol), ou seja, que sejam decisores na sociedade de que fazem parte e não , apenas, e não, sobretudo, peças duma engrenagem económica.


Ah! mas esta perspectiva é anti-económica, por certo!
Cidadãos intervenientes são cidadãos que constestam!
São cidadãos que colocam "pedrinhas na engrenagem" de quem pretende fazer do Mundo uma gigantesca máquina de fazer dinheiro.

Nesta perspectiva até que fará sentido interpretar Camões, e estudar Filosofia e saber resolver inequações.

Et pourtant....
Em França, "hoje, 70 por cento obtêm o diploma do liceu mas a maioria só consegue emprego... de caixa de supermercado. E, com formação universitária, um em dois jovens tem emprego sem relação com o que estudou."

Como é óbvio.


Só que não há hipótese, em minha opinião, de se estar em condições de optar pelo "matematiquês" de Nuno Crato ou pelo "Eduquês", sem antes se ter optado por uma das duas perspectivas anteriores!!!

Mas, claro, pode-se sempre optar sem dizer que se optou....

2 comentários:

Anónimo disse...

algumas nuances entre o dito "eduquês" e o dito "matematiquês":
Será que o nosso sistema de ensino não funcionará bem?
Para o sistema que temos eu acho que funciona até bem demais. Produz gente que é capaz de produzir, a baixo custo, sendo sobreformada, e, ao mesmo tempo, dá-se-lhe a noção que o defeito para a inexistência de emprego está na escola e não na economia e na política que temos.

habacuc disse...

Pois....Bem visto, sim senhor!