sexta-feira, outubro 21, 2005

Entrevista da ministra ao publico, comentada

Trechos da Entrevista com a Ministra da Educação ao Público em 20-10-05, comentados

512 escolas com elevado insucesso vão ser encerradas no final do ano lectivo
Que tipo de problemas existem na rede?Temos problemas nas zonas urbanas, na região de Lisboa e no Porto, com escolas antigas que estão degradadas. Só em Lisboa há 13 estabelecimentos a necessitar de intervenção urgente. Outra decisão que tomámos foi a de encerrar já no próximo ano lectivo aquilo a que chamo "escolas do insucesso", que são sobretudo do 1.º ciclo e de pequena dimensão, escolas onde o nível de repetência é muito superior à média nacional.
Bem, bem. Escolas do insucesso. Um conceito pedagógico francamente inovador. Referir-se-á exactamete a quê? Serão as parede ou o tecto que causam o dito insucesso???
Esse levantamento já está feito? Encontraram uma correlação entre escolas pequenas e maiores níveis de insucesso?
Está feito e a correlação é impressionante. O cruzamento das taxas de repetência com a dimensão das escolas permite desenhar um gráfico de uma clareza total. As taxas anormais de insucesso estão praticamente todas localizadas em estabelecimentos com menos de 20 alunos.
Mas será que alguém de bom senso pode acreditar num disparate destes????? Que o insucesso tem como causa a dimensão duma escola????
Ainda que acreditemos na possibilidade de existir exista uma tal correlação, não seria razoável primeiro tentar perceber o porquê de tal correlação?
Exemplificando, com outra situação, perceberemos melhor a lógica de raciocínio da Srª Ministra:as aldeias mais pequenas são as que têm uma taxa maior de idosos e menor taxa de população jovem. Logo: as aldeias pequenas causam a morte dos jovens e o envelhecimento. Logo: vamos destruir as aldeias pequenas e tranferir os velhos para cidades grandes e eles rejuvenescerão!!!
Pedi para as listarem e chegámos a um total de 512. No próximo ano essas escolas já não abrirão, uma responsabilidade que terá de ser partilhada com as autarquias.
Encontraram outras correlações com insucesso? Encontrámos pontos negros à volta de Bragança e da Guarda, em Lisboa e no Porto, para além de uns focos de reduzida dimensão no Alentejo. O que as direcções regionais estão a fazer é a contactar as autarquias e a procurar no contexto escolas para onde possam ser deslocados os alunos e os professores das que vão encerrar e a ver o que é que isso significa em termos de transportes escolares. Depois teremos um ano para resolver os problemas de fundo da rede escolar, identificar os pontos em que é preciso construir novas escolas.
Bem…então o problema deve estar mesmo no tipo de tectos ou de paredes, talvez, pois se vão construir outras….Já devem saber o que é para não calhar a construirem novas “escolas de insucesso”….
Está disponível para ajudar as autarquias?Não há outra solução. Até porque muito provavelmente estas decisões vão afectar concelhos com fracos recursos e pouca motivação para investir na educação.O orçamento chega?Não estamos a falar de nenhuma enormidade em termos de despesas. Muitas vezes sai seguramente mais barato alugar um táxi para transportar as crianças do que manter certas escolas abertas. Até porque muitos professores não se fixam e é necessário substituí-los, sendo que numa destas escolas com pouquíssimas crianças chegamos a colocar 18 docentes num ano. Isto não sai caro, sai caríssimo.
Até parece que pagam mais por srem 18, como se os colocassem a todos em simultâneo….
Mas o problema não é o custo, é nenhuma criança poder ter sucesso assim. Não podemos ignorar que temos 500 escolas de insucesso consistente, que falharam sempre nos últimos três anos.
Estupidez ou hipocrisia? A ministra por acaso dar-se-á conta do que representa em termos de contributo para o insucesso escolar as longas e demoradas deslocações dos alunos da sua localidade para outra onde se situa a escola e regresso a casa???? Os tempos mortos que isso representa porque, obviamente há que rentabilizar o custo do gasóleo e portanto o horário do transp+orte nunca é personalizado….Vá a Odeceixe, por exemplo e pergunte aos estudantes como é!!!!
Colocações plurianuais vão ser obrigatórias
Quando anuncia a colocação dos professores nas escolas por vários anos, refere-se aos contratados ou aos que fazem parte dos quadros?
Estão em aberto todas as possibilidades.
Ela sabe lá….
O problema é que o sistema de colocação de professores privilegia a mobilidade dos professores e não o interesse das escolas e dos alunos. Os professores têm o direito de pedir para mudar de escola todos os anos, o que não é aceitável.
Bem, os professores quando conseguem ficar numa escola em que não têm de fazer quilómetros e quilómetreos de deslocação não paga para trabalharem, já não voltam a pedir para mudar de escola……Mudar anualmente de escola não é propriamente a ideia que os professores têm sobre fazer turismo….Mais uma vez não é um privilégio….é uma causa duma situação injusta.
Assim como é preciso resolver o problema dos quadros de zona pedagógica, que chegam a ter a dimensão de um distrito, prejudicando os professores.Como?Trabalhando no conceito de quadro do agrupamento. Os directores das escolas saberão com que professores podem contar no ano seguinte para dar continuidade ao seu projecto.Nessa lógica não devia ser adoptado um mecanismo que desse às escolas mais autonomia na selecção dos professores?Essa ideia não me choca.
Pois a mim choca bastante. Basta ver como os Conselhos Executivos conseguem, em concurso(?) dar emprego a membros dum agregado familiar inteiro na mesma escola, nas secretarias e como auxiliares de educação…..É o pai, a mãe e os dois filhos, todos juntos….Parece uma empresa familiar…..
Não me revejo no actual modelo excessivamente centralizado, em que até os horários de sete horas vão a concurso nacional. Há um desajuste entre a geografia e os interesses dos professores e das escolas que não tem nenhuma justificação. Mas nos sistemas públicos também temos a necessidade de garantir que há professores de qualidade em todas as escolas, que há igualdade de oportunidades e universalidade no sistema.
Qual seria então o modelo de colocação de professores alternativo?
Vamos fazer agora pequenas alterações e teremos depois quase um ano para pensar.
Ela sabe lá….
As colocações plurianuais avançam já. Vão ser uma opção dos professores ou a sua aceitação será obrigatória?Será obrigatória, mesmo podendo prever-se muitos mecanismos para criar essa obrigatoriedade, através de desincentivos ou de penalizações. O que importa é contrariar a cultura de mobilidade há muito enraizada.
Bem, se a srª Ministra começar a pagar subsídio de alojamento aos professores “desterrados” oiu subsídio de deslocação, contraria logo a cultura de mobilidade….

Estava quase a achar-se normal uma criança ir à escola e não ter aulas
As alterações à organização dos horários dos professores e do período de funcionamento das escolas do 1.º ciclo foram as medidas mais difíceis até agora tomadas, assume a ministra da Educação. E, se admite problemas, recusa-se a aceitar que casos pontuais ponham em causa decisões que "têm toda a razão de ser".O ministério conhece a dimensão do absentismo dos professores? Foi isso que a levou a definir a ocupação dos "furos" dos alunos como uma das prioridades?
Setenta por cento dos professores são mulheres, as mulheres têm filhos e têm de cuidar deles e é esta questão, que se coloca em todas as organizações em que o trabalho é predominantemente feminino, que não podemos iludir. A especificidade do absentismo no ensino é que tem um efeito muito maior. Quando um professor falta e a escola não se organiza, são 30 famílias que são afectadas. Uma criança entra na escola para estudar o dia todo, não pode, por uma razão qualquer, ficar sem aulas e ir jogar à bola ou para o café. O tempo lectivo tem de ser pleno.
Tempo lectivo pleno? Esse conseito também é inovador. Mas não se sabe o que significa neste contexto, porque ter meninos ocupados a jogar num espaço fechado quando deviam estar a aprender matemática, verdadeiramente não é muito mais “pleno” do que estar a jogar à bola no pátio da escola…. Agora, se a ministra quer mesmo que o tempo seja “pleno”, bem, basta colocar em cada escola por cada grupo disciplinar de cada ciclo, um ou dois ou três (consoante a dimensão da escola) profesores sem horário lectivo fixo, que estão lá para assegurar essa mesma plenitude. E é esta a única forma. Não há outra!
O absentismo entre a classe docente é superior às outras profissões predominantemente femininas?
Ela sabe lá…A minha preocupação é que a organização escolar tenha resposta para estas disfunções. Se um professor faltou, paciência. Agora a escola tem de ser capaz de ocupar as crianças, ( bem, agora já é só ocupar, já caíu o “tempo lectivo pleno”….)até para dar um sinal de disciplina de trabalho e de dedicação ao estudo. (Enorme dedicação ao estudo, com o professor de inglês a arranjar joguinhos para entreter os meninos que deviam estar a ter matemática…O que se dá é mesmo o sinal contrário…)
Estava quase a considerar-se normal que uma criança pudesse ir para a escola e se tinha aulas tinha, se não tinha não tinha.As tarefas que os professores estão a ser chamados a desempenhar têm criado divergências com os sindicatos.Não há uma divergência profunda em relação à componente não lectiva. Os sindicatos reconhecem que há uma parte no trabalho dos professores que é individual e outra que tem de ser dedicada a trabalho nas escolas. A grande discordância é que os sindicatos são da opinião de que o ministério devia dizer qual o número de horas de cada componente, em vez de serem as escolas a fazerem-no.Os sindicatos também dizem que os professores estão a ser obrigados a realizar tarefas que "desvirtuam" a função docente e atentam contra a sua dignidade profissional .Tenho dito aos sindicatos que gostava que me fizessem chegar informação sobre se as orientações estão a ser mal aplicadas ou se há abusos, mas até hoje não me chegou uma única queixa de um caso concreto.
E para que serve a inspecção??? Então os sindicatos agora devem-se substituir aso serviços inspectivos do ministério???!!!!
Perante casos concretos interviremos.Um caso concreto é pedir-se a professores dos 2.º e 3.º ciclos para acompanharem meninos do 1.º ciclo. Faz sentido recorrer a pessoas que não têm preparação para estar com crianças para garantir, por exemplo, o alargamento do horário das escolas?Faz todo o sentido. Por um lado, há um (há por lá um, ela não sabe bem qual é….) artigo no estatuto [da carreira docente] que diz que todos os professores sem excepção têm o dever de acompanhar alunos dos diferentes níveis de ensino. Por outro lado, no que respeita à formação inicial, quase não há distinção entre a preparação dos docentes do 1.º ciclo e do 2.º ciclo.
A ministra desconhece que essa semelhança de formação (com muito maus resultados, aliás, tanto para o 1º ciclo como para o 2º ciclo) só se tornou semelhante de há alguns anos para cá , pelo que, na maioria dos casos, as formações são completamente diferentes!!!!
Não me parece que haja aqui qualquer ataque à dignidade da função docente, pelo contrário: é uma oportunidade para os professores circularem e contactarem com docentes de outros ciclos.
Pois é….Aliás eu até penso que seria bom estender tal oportunidade aos docentes do superior, que poderiam também substituíssem de vez em quando os do secundário e 3º ciclo, quando terminam os seus semestres passados 2 meses depois de os terem iniciado….
O que estava mal era haver profissionais sem uma actividade distribuída e, no mesmo agrupamento, existirem escolas do 1.º ciclo a precisarem de professores.Um professor do 2.º ou 3.º ciclos pode não se sentir preparado para estar com crianças de 6, 7 anos...O facto de um professor em concreto não se sentir preparado não pode servir para se rejeitar em abstracto uma medida que tem toda a razão de ser.
Bem, pensava que isso era rejeitar em concreto, uma medida que se defende em abstracto….mas a ministra tem uma forma de pensar que….é mesmo só dela.
Acredita que a nova organização dos horários, que obriga os professores a passarem mais horas nas escolas, altera as suas rotinas e melhora o sucesso dos alunos?O alargamento do horário e a revalorização do 1.º ciclo são as medidas mais difíceis que tomei até agora e, se calhar, das mais difíceis que vou tomar nestes quatro anos. São iniciativas simples mas que têm um enorme significado, sendo que segredo do seu sucesso pode estar no acompanhamento e no apoio às escolas para superarem as dificuldades que surgirem.
A ministra não sabe o que é dar aulas a ciranças. Por isso não sabe o que é o burn out dos professores. Por isso não entende que os professores estando mais tempo na escola terão uma produtividade muito menor do que têm tido até aqui. Trata-se de ignorância do funcionamento do sistema no seu estado mais absoluto.Que dificuldades sentem as escolas?Umas são dificuldades objectivas, outras resultam da resistência subjectiva à mudança. Por isso é que o apoio do ME é importante, para identificar os casos em que faltam meios, salas, professores. Às vezes a escola também não sabe como fazer, porque se habituou a outra forma de funcionar. Preocupam-na os sinais de descontentamento e desmotivação dos professores?Sou professora (professora no superior, onde um semestre dura 3 meses, onde os alunos não precisam de ser motivados e até levam os cadernos e os lápis que precisam….onde os professores tem gabinetes para trabalhar….etc, etc,etc, Não! Nao estamos a falar da mesma coisa…..) e preocupa-me uma certa desmotivação ou até uma certa representação social negativa dos professores. Mas a desmotivação não pode ser invocada para resistir, pois, quando vou às escolas, não é isso que sinto. As pessoas percebem o sentido das medidas, mas é preciso dar tempo e distinguir o que é pontual e circunstancial dos problemas de fundo. Essa percepção global ainda não a temos.
Ah, mas deixe lá que irão ter, essa tal percepção global. Pode estar certa disso!!!!
Escolas vão ter de reflectir sobre os resultados dos exames
Em ano de estreia das provas nacionais do 9.º ano, os resultados revelaram-se péssimos a Matemática: 70 por cento dos alunos tiveram negativa e o ministério quer que as escolas avaliem o que falhou e elaborem estratégias de recuperação. O que pensa fazer com os resultados das avaliações que estão disponíveis?Os exames nacionais são uma peça essencial do sistema. Não para seriar alunos, mas para fazer a monitorização da qualidade do ensino e das dificuldades de concretização dos programas. Só que não têm estado a ser utilizados para essa finalidade. Nem os exames, nem as provas de aferição, nem os resultados do PISA [Programme for International Students Assessment]. O que queremos é que Júri Nacional de Exames e o Gabinete de Avaliação Educativa acompanhem as escolas na reflexão que têm de fazer sobre os resultados e que estas definam planos de recuperação. O quadro era de total desresponsabilização.
Bem, afinal a paixão de Guterres foi desastrosa….No que refere às aulas de recuperação para os alunos com várias negativas, como é que as escolas vão integrar estas horas a mais nos horários de alunos e professores? Quem é que vai dar apoio?
Ela sabe lá…São perguntas às quais as escolas terão de responder, pois ao ministério só cabe definir os referenciais de organização. Temos de voltar a centrar a política educativa nos resultados, de combater o insucesso, de ter mais alunos a concluir o secundário. A probabilidade de um aluno que começa a repetir aos 7 anos ter insucesso no resto da escolaridade é enorme, o que significa que a repetência não serviu para nada. É por isso que já há escolas que se organizam para recuperar esses alunos.Mas nas que ainda não se organizaram...Têm de organizar-se. A recuperação dos alunos tem de ser uma actividade normal das escolas e os recursos que têm já são suficientes.Em muitas escolas as dificuldades que os professores enfrentam já são muitas...Sei que o desafio de ensinar os alunos que têm dificuldades é um trabalho muito exigente e de uma dignidade e generosidade enormes. Mas o desafio é as escolas dizerem-me o que necessitam, não invocarem falta de condições em abstracto. Quando uma escola ou um professor me escreve uma carta a dizer concretamente o que necessita, raramente fica sem resposta.
1ª Boa notícia. Vou escrever já!!!!Vai manter a o peso de 30 por cento dos exames do 9.º ano no cálculo da nota final?
Ela sabe lá….Vou avaliar os exames antes de tomar qualquer decisão. Não excluo a hipótese de ser necessário mudar, mas tenderia a não alterar nada.As provas de aferição no 4º e 6º anos são para continuar?Têm de continuar. Não temos outros instrumentos de avaliação externa. O problema, de novo, é que se instituíram as provas e depois não se fez nada. Foi um muro de lamentações à volta dos resultados sem consequências. No programa de formação contínua de Matemática que criámos para os professores do 1.º ciclo já foram tidas em conta as falhas que os resultados evidenciaram.E até que ponto esses resultados podem servir para avaliar da actuação de um conselho executivo?O ministério não dispõe de uma avaliação sistemática das escolas que lhe permita fazer isso, mas no futuro queremos avaliar os resultados não tanto dos exames, mas da capacidade de resposta das escolas ao desafio do insucesso, da eficácia e da eficiência.
Metade dos professores já estão nos três escalões mais altos da carreira docente
Se todos os relatórios de actividade que os professores fazem antes de subir de escalão são valorizados com a nota máxima, tem de concluir-se que não estão a funcionar como uma avaliação de desempenho, afirma a ministra da Educação.
Pois afirma mal, porque por norma, eles nunca são avaliados com a nota máxima, mas apenas com a menção de satisfaz….Porque a nota máxima implica um juri especial de avaliação e permite um progresso mais rápido na carreira do que o habitual.
Mais: "Actualmente é possível um professor progredir na carreira estando dispensado de dar aulas." Talvez porque o trabalho dum professor não é nem nunca foi só dar aulas…a ministra é que ainda não entendeu isso….O congelamento das carreiras por um ano vai permitir reavaliar o sistema de progressão, explica Maria de Lurdes Rodrigues. "Precisamos de ter uma componente de avaliação de desempenho que valorize os professores que efectivamente dão aulas, que têm várias turmas, que se envolvem no esforço da recuperação dos alunos." Até porque, acrescenta, os obstáculos que se possam criar "são valorizadores" da função docente. "Penso que os professores que são muito empenhados também não se revêem neste regime em que praticamente não há distinções entre os que trabalham muito e os outros." O resultado de não se ter controlado o mecanismo de progressão, critica, é que nos últimos anos o sistema ficou com "50 por cento dos professores nos últimos três escalões do carreira". "Obviamente que esta situação tem de ser trabalhada, temos de construir progressivamente uma hierarquia, que distinga os professores com mais experiência e mais competências, até para distribuir correctamente as responsabilidades. Neste momento um professor em início da carreira ou no 10.º escalão pode estar a exercer exactamente as mesmas funções", observa a ministraPior que isso! Como os professores no 10º escalão não, podem ter redução dos cargos por directivas de sua Exª a ministra, são os professdores mais novos, muitos ainda completamente inexperientes, que podem ter tais reduções, que têm assento nas estruturas de gestão pedagógfica das escolas!