Notícia transcrita do Correio da manhã de hoje:
"O Governo publicou um despacho que prevê a criação de “percursos alternativos” para combater o insucesso escolar, mas a estruturação das alterações está na mão dos estabelecimentos de ensino.Na prática, os alunos até aos 15 anos com duas ou mais reprovações passarão a integrar turmas especiais. Para melhor aprendizagem, a teoria nas aulas é reduzida, com privilégio para o lado prático dos conteúdos. Um exemplo? Menos teoria das plantas, mais jardinagem.Há disciplinas que vão ser readaptadas, as teóricas sofrem cortes e surgem novas propostas para completar o leque de oferta curricular. “O limite é o desaparecimento total de uma disciplina, mas apenas em situações excepcionais”, assegura o secretário de Estado. (Valter Lemos)
Fechados nas 4 paredes dos seus gabinetes, estes senhores vão pensando, pensando....e de repente, faz-se-lhes luz: gritam "eureka" e assim nasce uma nova orientação para a política educativa em Portugal!
Considerando-se iluminados pela boa estrela de Sócrates (o José), nem se questionam sobre a eventual vantagem de discutir com outros as suas (suas?) ideias.
NÃO! SE ELES TANTO PENSARAM E DESCOBRIRAM ENTÃO É DOGMA EDUCATIVO. FAÇA-SE DE IMEDIATO O DESPACHO PARA APLICAÇÃO RÁPIDA DA IDEIA.
Assim pensam mostrar a sua eficácia a sua capacidade de decidir.
E que brilhante ideia foi agora produzida?
Bem, nada mais nada menos do que o "repescar" dos velhos "currículos alternativos, mas....com diferenças substantivas importantes.
A 1ª - o objectivo.
Nunca ninguém em tempo certo afirmou serem objectivos da instituição das turmas de currículos alternativos o combate ao insucesso escolar, mas antes o combate à exclusão escolar - o que é completamente diferente!
Vir afirmar-se agora, como faz o senhor Valter, que este percursos alternativos visam combater o insucesso escolar, é pura desonestidade intelectual : não se aumentam as aprendizagens sobre fotossíntese por muito se fazer jardinagem.....portanto o insucesso e a iliteracia estão lá à mesma, não se alteram um milímetro!
O que se poderá eventualmente alterar é, isso sim, a exclusão escolar e não o insucesso escolar!
A 2ª - a visão holística do currículo.
Amedrontadamente o senhor Valter, apenas prevê, no máximo, o deasaparecomento total duma disciplina.... para quem quer com esta medida promover o combate à exclusão escolar, esta minimalista alteração do currículo não é insuficiente.....é simplesmente ridícula!
Em conclusão: não percebendo realmente o verdadeiro sentido da adopção anterior da prática dos currículos alternativos, o senhor Valter vem agora propôr uma medida que "não é carne nem é peixe" e só serve para mais uma vez pôr a nu a incompetência despudorada da equipa governativa chefiada (?) por Maria de Lurdes Rodrigues.
Falta ainda saber, porém se suas excelências também acham que compete aos professores de biologia fazer a tal jardinagem ou se prevêem contratar jardineiros para tal efeito....é que, na verdade, os professores provavelmente até nem percebem nada de jardinagem!
Ou talvez o senhor Valter ou a D. Lurdes vão às escolas "fazer umas graças" e ensinar um pouco de jardinagem aos professores....
segunda-feira, janeiro 09, 2006
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2 comentários:
Realmente não sei que tipo de gente compõe a classe profissional a que pertencemos. Como é possível continuarmos a engolir tantos dislates? Não consigo mais, quer a nível nacional, quer a nível local. Só vislumbro três alternativas: ou formar uma associação qualquer independente que vise a união de todos os Professores, ou calar e rebentar, ou faltar uma semana para conseguir escrever o que quero dizer a todos os responsáveis e a seguir ser alvo de um processo disciplinar. Como está, está a ser insuportável e um atentado à minha qualidade de vida, profissional e até pessoal.
Cansada, tão cansada! Extremo sentimento de vulnerabilidade, não no que particularmente me respeita, mas no que se refere ao sistema de ensino - de onde surdiu esta gente que agora manda e desmanda e nos desgoverna?! Tamanha incompetência e despudor! E é difícil explicá-lo a quem está de fora, a quem não vive na escolas e a quer de facto melhor, a servir melhor. Difícil porque o sistema educativo se tornou muito complexo e porque a generalidade das pessoas fica deslumbrada com o senso-comum bacoco de medidas provadamente inexequíveis ou inúteis. Estou farta da escola das competências. Vamos lá fazer jardinagem, "custodiar" os alunos, que é o que se quer de nós, e desenvolver grande actividade burocrática para tapar o sol com a peneira. Desalentada.
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