A carta da Professora Dalila e a razão da sua escrita, impõe uma reflexão mais alargada sobre o jornalismo e o papel de determinados jornalistas na implementação de objectivos políticos governamentais.
Qual a razão que leva a que um jornalista seja chamado e lhe seja reconhecido o direito a opinar?
Porquê um jornalista? Porque não um médico, um agricultor ou outro indivíduo de qualquer outra profissão?
A resposta é evidente: pretende-se fazer crer que, sendo um jormalista a emitir a sua opinião pessoal(?), essa opinião se reveste de "independência jornalística" (vá-se lá saber o que isso significa).
Trata-se, pois, de um embuste total, do ponto de vista da democracia: o jornalista ao dar a sua opinião não é mais independente ou rigoroso que qualquer outro cidadão, nem a sua opinião se pode dizer ser mais digna de consideração por razões da profissão que exerce.
Simultaneamente, o cidadão, que por ser jornalista, se arroga o direito de julgar que a sua opinião pessoal é mais relevante do que a dos outros cidadãos, está a usar o abusivamente o seu estatuto profissional e eventualmente a prostiuir-se ao serviço de quem lhe paga o discurso. Pois. Porque lhe pagam o discurso!
Infelizmente continua a haver quem pense que para se viver em democracia é necessário fazer que as pessoas pensem o que o poder maioritário quer que elas pensem.
É neste contexto que continuamos a ver proliferarem por aí os "opinion makers".
Mas todos os opinion makers com assento regular nos orgãos de comunicação social, são sempre e só provenientes da esfera maioritária no poder. O dito bloco central. Ou, dito duma forma mais acertada, da esfera da social-democracia, constituida pelo PSD e pelo PS em Portugal.
Por isso aí estão Rebelo de Sousa e Vitorino, com lugares cativos nas horas nobres da TV.
Porque diabo não terão as outras áreas do pensamento político português também o seu direito a ter, em horários nobres das TVs, os seus lugares cativos?
Porque o poder quer controlar o que as pessoas pensam e como pensam sobre os diversos assuntos. Por isso é o poder que escolhe os opinion makers de serviço.
Claro que não os escolhe directamente ele próprio....
O Poder tem quem os escolha por ele e para bem dele.
E o mais delicioso no meio disto tudo, é existirem por aí uns senhores que acham que são Alta Autoridade para a Comunicação Social....
terça-feira, janeiro 30, 2007
segunda-feira, janeiro 29, 2007
a resposta que o expresso não publicou
Porque o expresso não deu o direito de resposta, aqui se publica a carta de resposta da professora Dalila Mateus, ao artigo de Sousa Tavares em 6 de Janeiro no expresso.
"«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta. O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência. O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido. O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país. O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição. O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação. Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna e Contemporânea».
"«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta. O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência. O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido. O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país. O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição. O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação. Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna e Contemporânea».
sexta-feira, janeiro 19, 2007
Esteves e o insólito
ontem foi dia de mudança na escola.
Pelo fim da tarde, os placards, já habituados desde o início do presente ano lectivo a estarem repletos de artigos de opinião, sketches, poemas, etc, etc, relativos à Formosa Srª, foram completamente despidos de toda essa roupagem.
Bem, deve ter dado na cabeça de alguém fazer uma limpeza geral e pronto, lá desapareceu tudo.
Mas eis que hoje um facto insólito permitiu a compreensão do acontecimento anterior, já por si, insólito também: ELA ESTAVA LÁ!!!!!
ELA mesma! Sem tirar nem pôr.
A formosa dama!!!!
Não, não era um holograma!!!!
Sem que ninguém soubesse, sem que ninguém esperasse, a formosa entrou pelo portão maior, com os seus acólitos e por lá andou, metendo o formoso nariz onde entendeu e aguçando o faro.
E assim aconteceu que um facto insólito nos veio a revelar o significado profundo dum outro facto insólito, mostrando-se pois, que de insólito em insólito se vai construindo o nosso quotidiano real.
Foi então que me lembrei do "Esteves".
O "Esteves" , primeiro ministro de Portugal. E era o "Esteves", porque sabia-se sempre que ele tinha estado.
Mas nunca se sabia quando iria nem onde iria.
Pois bem, temos os "Esteves" de novo entre nós!
Pelo fim da tarde, os placards, já habituados desde o início do presente ano lectivo a estarem repletos de artigos de opinião, sketches, poemas, etc, etc, relativos à Formosa Srª, foram completamente despidos de toda essa roupagem.
Bem, deve ter dado na cabeça de alguém fazer uma limpeza geral e pronto, lá desapareceu tudo.
Mas eis que hoje um facto insólito permitiu a compreensão do acontecimento anterior, já por si, insólito também: ELA ESTAVA LÁ!!!!!
ELA mesma! Sem tirar nem pôr.
A formosa dama!!!!
Não, não era um holograma!!!!
Sem que ninguém soubesse, sem que ninguém esperasse, a formosa entrou pelo portão maior, com os seus acólitos e por lá andou, metendo o formoso nariz onde entendeu e aguçando o faro.
E assim aconteceu que um facto insólito nos veio a revelar o significado profundo dum outro facto insólito, mostrando-se pois, que de insólito em insólito se vai construindo o nosso quotidiano real.
Foi então que me lembrei do "Esteves".
O "Esteves" , primeiro ministro de Portugal. E era o "Esteves", porque sabia-se sempre que ele tinha estado.
Mas nunca se sabia quando iria nem onde iria.
Pois bem, temos os "Esteves" de novo entre nós!
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